Primeira publicação
Segunda publicação
Quando o Matias nasceu estava preparada para um cenário demoníaco: esperava passar os meus dias fechada em casa, com ar de atropelada, sem tomar banho, sem ter tempo para nada e por aí fora. Entretanto ele nasceu e eu senti-me mesmo super feliz e cheia de energia. Olhando para trás, acho sinceramente que os meses em que estive de licença de maternidade foram dos mais felizes da minha vida, e só foram ultrapassados pelas fases seguintes porque, honestamente, acho muito mais piada ao Matias agora do que quando era bebé.
Agora a Gabriela nasceu, e algumas das coisas que escrevi na altura mantêm-se. Continuo a sentir que tenho imenso tempo. Todos os dias vejo filmes enquanto ela dorme ao meu colo (às vezes mais do que um). Consigo sempre tomar banho (nem que seja com ela na espreguiçadeira à minha frente). Não passo de todo os dias fechada em casa (embora ultimamente esta chuva não ajude lá muito). Vá, pareço um bocado atropelada, pronto.
Mas estou indiscutivelmente mais cansada. Estou tão cansada que há três dias fui abastecer o carro que conduzo há seis anos e fiquei cinco minutos parada na bomba porque não me lembrava se o meu carro era a gasóleo ou a gasolina (entretanto contei isto aos meus amigos e pelos vistos diz na portinha do combustível em letras gigantes, mas enfim, não vi). Estou tão cansada que há dois dias abri a embalagem de cebola picada com uma tesoura e depois deixei a cebola na bancada e guardei a tesoura no congelador. Estou tão cansada que ontem liguei a Actifry com a colher medidora lá dentro, por isso a dita (que é de plástico) derreteu. Estou tão cansada que passei a beber café todos os dias, apesar de ser desaconselhado por causa da minha frequência cardíaca. Estou estúpida, pronto.
(Por outro lado, estou uma estúpida com muito tempo livre, por isso ando a ler sobre a história da Swazilândia (agora Eswatini) e ontem li sobre as origens históricas do aperto de mão! Muito interessante!)
No entanto, estar cansada tem algumas coisas boas. Tendemos a simplificar imenso as rotinas do dia-a-dia, ficámos óptimos na gestão da ansiedade nos contactos do Matias com a miúda (ou seja, deixamo-lo brincar à vontade com a irmã e envolver-se imenso em tudo) e estamos especialistas a priorizar as nossas coisas.
Mas é difícil. Este cansaço. O peso deste amor, como diz aquele texto que eu gosto tanto. No Sábado fomos à festa de Natal da escola do Matias, e enquanto voltávamos no carro a miúda decidiu berrar durante vinte minutos seguidos. O Matias vinha ao lado dela a ler em voz alta um livro que ele adora, o 'Há Um Dragão No Teu Livro'. O Pedro vinha a falar de qualquer coisa. Vínhamos na Segunda Circular e a dada altura subiu um avião por cima de nós, e eu só pensei que queria ir-me embora e fugir dali, para algum lado com silêncio. E álcool. E depois a Gabi parou de chorar e o Matias disse:
'Fiz uma festinha na carinha da mana e ela gostou e parou de chorar.'
É claro que cinco segundos depois a Gabriela voltou a chorar, mas o Matias foi o resto do caminho a dizer 'tem calma minha pequenina, estamos quase a chegar a casa'.
O meu coração explodiu ali, e sempre que penso neste momento só me apetece chorar. Porque me sinto cansada, porque me sinto sozinha, porque me sinto insegura. E porque, ao mesmo tempo, nunca estive tão feliz, tão agradecida e tão forte. Nunca me senti tão completa.
Ser mãe é a coisa mais difícil da minha vida neste momento. Mas também é a mais bonita.
'It doesn't get lighter, but you'll get stronger, I promise.'