O Matias fez um ano no dia 14 de Maio. No dia 15 de Maio regressei às 'quarenta' horas de trabalho semanais (estava com trinta) e às urgências de doze horas (fazia 'só' dez).
No dia 19 de Maio fomos para Santorini. Foi uma viagem muito gira, mas também incrivelmente cansativa.
Nos últimos oito dias fiz três urgências de doze horas à noite (das 20h às 8h).
O Matias está aparentemente a passar uma qualquer fase. Já está bastante melhor na parte da alimentação (agora 'só' não come fruta e papa, e mesmo assim vai provando um bocadinho) e dorme como um anjinho durante a noite (embora nem sempre durma de dia), mas está claramente numa fase de afirmação e de testar os limites (hello birras). Também está mais fofo a cada dia que passa, mas é um facto que esta está a ser a fase mais desafiante da maternidade (até agora, pelo menos).
No Sábado cheguei a casa às nove da manhã (depois de ter feito doze horas de urgência) e o Matias tinha acabado de acordar. Quando o fui buscar descobri um cenário absolutamente dantesco. Vou poupar-vos dos detalhes, mas resumindo: estamos todos com uma gastroenterite do demónio. Desde Sábado que a única refeição que eu e o Pedro fazemos é o pequeno-almoço (vá, ontem conseguimos jantar). É impressionante como o miúdo parece ser quem está melhor neste filme todo: umas três ou quatro diarreiazitas até ao cabelo (literalmente) e está fino, enquanto nós andamos aqui com ar de quem foi atropelado.
No meio disto tudo, estamos muito cansados. Estamos mais do que cansados. Estamos esgotados. Estamos sem paciência. Estamos mal-humorados. Estamos irritados. Discutimos que nem uns perdidos por causa de coisas parvas que nunca nos incomodaram.
(E eu sou uma Hufflepuff, como imaginam não sou propriamente uma pessoa conflituosa.)
No passado fui acusada de passar uma imagem 'demasiado boa' da maternidade, por isso aposto que agora essa malta está a esfregar as mãos de contentamento. A verdade é que neste momento a minha imagem real da maternidade é esta: o meu momento preferido do dia é quando entro no quarto do Matias de manhã e ele começa aos pinotes na cama... Seguido muito de perto pelo momento em que o deitamos à noite e nos atiramos para o sofá, cada um para o seu lado, a fazer coisas estupidificantes (o Pedro a ler blogues do Sporting, a ver jogos de todas as modalidades do Sporting ou a jogar FreeCell, eu a jogar Episode, a ler fóruns de mamãs e a planear a festa do vigésimo aniversário do Matias).
E a vida vai continuando. É só uma fase má. Amanhã eu vou acordar, vou invocar todas as minhas energias para conseguir levantar-me da cama, vou contar trinta vezes quantos dias faltam para as minhas férias (com uma certa ambivalência de sentimentos, porque vamos de férias sem o Matias), vou trabalhar, vou apanhar o Matias na creche (o Pedro está de urgência), vou brincar com ele, vou deitá-lo, vou suspirar de alívio e vou esperar pelo Pedro para podermos não jantar e ir para a cama às dez porque estamos esgotados.
E pelo meio disto tudo, e por muito masoquista que isto possa parecer, entristece-me pensar que não poderei ter outro filho agora. Por muito masoquista que isto possa parecer, gosto muito de ser mãe e gostava muito de voltar a engravidar agora. Por muito masoquista que isto possa parecer... A verdade é que estou feliz. Cansada, mas feliz. Irritada, mas feliz. Farta de tudo, mas feliz.
Bem-vindos à realidade ambivalente das mães.