Pré-gravidez
Engravidei do Matias logo à primeira, de tal forma que fiz o teste de gravidez por descarga de consciência porque achava impossível estar grávida logo quando as pessoas que conhecia demoravam meses ou anos a engravidar. Vai daí, quando decidimos ter a miúda estava convencidíssima que ia engravidar naquele segundo, claro, somos tão férteis, um prodígio da natureza, recordes do Guinness connosco já.
Quando não engravidei no primeiro mês achei normal. Pronto, acontece, não se pode ser perfeito, até os campeões olímpicos da fertilidade têm direito a dias menos bons e tal. Mas depois não engravidei no segundo mês também, e aí comecei seriamente a fritar a pipoca.
Achei que era de ser velha (recordo que tenho trinta anos), que algo tinha corrido mal no meu primeiro parto (nada que indicasse isso, mas ok) ou que estava como naquela frase do Saramago no início do Memorial do Convento 'já se murmura na corte, dentro e fora do palácio, que a rainha, provavelmente, tem a madre seca'. Mentalizei-me que ia demorar meses a engravidar e pumbas, engravidei no mês seguinte.
(Sim, eu sei que sou histérica.)
Vai daí, diria que vivi um pré-gravidez mais ansiogénico da segunda vez, até porque o pré-gravidez do Matias durou pouquíssimo tempo.
Gravidez
Quando vi o teste positivo na gravidez do Mati fiquei feliz, mas também surpreendida e ansiosa. Não sabia bem o que era suposto fazer. Depois fomos almoçar com a minha sogra e tivemos de agir como se tudo estivesse normal. Contei às minhas pessoas na semana seguinte, no trabalho às oito semanas, aos meus amigos às doze e aqui no blog às treze.
Quando vi o teste positivo na gravidez da Gabi fiquei histérica (até porque já andava a achar que tinha a madre seca, recordo-vos). Duas horas depois estava a ligar às minhas pessoas e a mandar mail à minha médica de família, e no dia seguinte contei no trabalho e aos meus amigos. Escrevi pela primeira vez sobre a gravidez no blog às oito semanas.
O início da gravidez do Matias correu razoavelmente bem, sem grandes sintomas. Fomos a Nova Iorque, onde eu recebi o resultado da sexagem fetal e descobri que íamos ter um rapaz. Depois fomos ver o musical do Rei Leão e eu chorei tanto que a Joana e o Bernardo acharam que íamos ter de ir embora.
O início da gravidez da Gabriela foi tenebroso. Desatei a vomitar que nem uma pescada, a única coisa que tolerava no estômago era leite com chocolate da Ucal fresco (true story) e fiquei logo com a frequência cardíaca mais alta e por isso fui logo medicada. Às seis semanas sangrei e achei que seria 'só' uma sensibilidade aumentada do colo, mas no dia seguinte percebi que estava com uma ameaça de aborto por causa de um descolamento da placenta. Sangrei durante mais uma ou duas semanas. Chorei muito. No fim, tudo correu bem.
O resto da gravidez do Matias foi correndo. Comecei a desmaiar todos os dias, por isso fui medicada com um beta-bloqueante e vim para casa. Passei o segundo trimestre em repouso relativo, a aproveitar os dias bons para fazer compras. Tinha listas infinitas relacionadas com o enxoval, comprei imensas coisas inúteis (e outras muito úteis também), fiz um baby shower, duas sessões fotográficas e duas ecografias 4d. Vibrei com tudo. Delirei com tudo. Comprei um fato de cozinheiro para o Matias. Chorei porque não conseguia montar a cama, a poltrona ou o ovo no carro.
O resto da gravidez da Gabriela foi correndo também. Vim para casa sensivelmente na mesma altura do que na gravidez do Matias. Passei os meses restantes a organizar a chegada da miúda com muita calma. Usei as listas infinitas da gravidez do Matias, mas comprei pouquíssimas coisas. Fiz um baby shower, uma sessão fotográfica e zero ecografias 4d. Vibrei com tudo e delirei com tudo na mesma, mas de uma forma mais serena. Dei muito colo ao Matias e imaginei como seria dar colo a dois (é óptimo). Comprei vários vestidos com tule para a Gabriela. Não chorei a montar nada, já somos especialistas em montagens.
No geral, sinto que a gravidez da Gabriela foi mais difícil. Não tive dor ciática como na gravidez do Matias (muito chato!), mas tive vómitos e incontinência urinária (que entretanto desapareceu depois do parto, realmente o meu corpo detesta estar grávido!). Sentia-me fisicamente debilitada e enorme na mesma, mas sem aquele encanto das primeiras gravidezes em que tudo é novo, a barriga é linda, o mundo parece todo cor-de-rosa, os coelhinhos saltitam nos prados e etc.
Parto
Na minha aula de yoga para grávidas eu era a única que já era mãe, e as outras moças (grávidas pela primeira vez) adoravam falar sobre como não queriam epidural, queriam um parto natural com músicas e velas e danças, isto das dores era uma questão psicológica e conseguíamos todas parir sem fármacos só com o poder da mente. Geralmente eu fazia uma expressão assim:
Não me interpretem mal: eu admiro muito as pessoas que não levam epidural, a sério. A minha mãe teve dois filhos sem epidural, a minha avó teve dois filhos sem epidural, a minha bisavó teve nove filhos sem epidural. Sabem quem tem gostou mais do seu parto? Aqui a pessoa que levou epidural. Dito isto, tenho várias amigas que não levaram epidural (umas por opção e outras por razões médicas) e estão vivas na mesma e adoram os filhos e algumas também gostaram dos partos. Mas claramente há toda uma linha que separa os primeiros partos dos seguintes.
No primeiro parto eu não sabia para o que ia. Fiz a depilação às 32 semanas 'não fosse ele nascer às 36'. Levei duas malas de rodinhas cheias de bodegas, achei que corria o risco de ter o miúdo pelo caminho porque o hospital era a vinte minutos de carro de minha casa (e depois gramei com 38h a ter contracções), fui para o hospital cedíssimo e sentia-me aterrorizada com a perspectiva de passar a ser mãe. Tive um parto lindo.
No segundo parto eu sabia exactamente ao que ia. Fiz a depilação às 38 semanas e meia, e aproveitei para cortar e pintar o cabelo e pôr gelinho nas unhas. Levei um saco do ginásio com coisas para o primeiro dia e depois o Pedro trouxe o resto. Fui para o hospital muito mais tarde, com contracções de tal forma dolorosas e próximas que temi ter a miúda pelo caminho. Estava super tranquila. Tive um parto ainda mais lindo. Sabia o que queria, sabia o que fazer e deixaram-me fazê-lo.
O meu segundo parto foi melhor. Foi mais rápido, menos doloroso, mais intuitivo e muito mais natural.
Pós-parto imediato
O baque imediato foi exactamente o mesmo com o Matias e a Gabriela. Amei-os, ali, logo, naquele segundo em que os vi. Fiquei cheia de hormonas felizes, estava pronta para tudo, queria correr a maratona se me deixassem.
Levantei-me duas horas depois do parto do Matias e fui tomar banho. Ainda andei uma ou duas semanas com dores no braço que tinha partido e na episiotomia (um dos pontos abriu), mas andava impecável e cheia de energia. Um mês depois estava pronta para outra e não fiquei com qualquer sequela do parto.
Levantei-me duas horas depois do parto da Gabriela (porque não me deixaram levantar antes) e fui tomar banho. Tive contracções durante três ou quatro dias, mas de resto tive zero dores. Por outro lado, senti-me (e sinto-me) com menos energia. Fisicamente estou bem e uma semana depois já estava pronta para outra, mas mentalmente sinto-me muito mais cansada. Até ver não fiquei com qualquer sequela do parto.
Quando trouxemos o Matias para casa foi um namoro pegado. A amamentação foi um dramalhão, mas fora isso achei tudo lindo e maravilhoso e no geral a adaptação foi muito fácil. O Matias comia e dormia, e tirando ali umas três horinhas ao fim da tarde em que chorava bastante era um bebé muito tranquilo.
Quando trouxemos a Gabriela para casa foi uma aventura. A amamentação não foi um dramalhão porque acabou antes de o ser. A adaptação foi, e ainda é, um desafio. A Gabriela comia e dormia, mas chorava como uma desalmada e berrava como se a estivessem a matar, de tal forma que decidi que mal a miúda faça seis anos vou logo inscrevê-la nas aulas de canto para começar a rentabilizar estes pulmões.
No geral, diria que houve um investimento diferente no Matias. O tempo era todo para ele, o resto ficou em segundo plano, ele era a nossa única prioridade. A minha pasta das fotos da altura era assim:
Com a Gabriela foi diferente. O Matias continuou a ter mais investimento (porque é mais crescido e exige coisas diferentes e mais complexas), a casa tinha de estar habitável, a roupa tinha de estar lavada, a sopa tinha de estar feita, precisávamos de ter leite e pão e fruta e por aí fora. Por isso, a pasta das fotos de agora tem este aspecto:
Pós-parto a médio prazo
Com o Matias a rotina instalou-se depressa. O Pedro voltou ao trabalho passado um mês, e no geral diria que tudo correu de forma tranquila. Eu estava focada no miúdo, íamos dando uns passeios, dormia umas sestas, tudo muito relaxado.
Com a Gabriela a rotina demorou mais tempo a instalar-se, mas acho que estamos finalmente a acalmar. O Matias já não acorda durante a noite com a miúda a chorar (o que é logo uma grande ajuda porque já só temos uma criança para gerir de madrugada e não duas). O Pedro volta ao trabalho daqui a dez dias. Andamos fartos de passear, até porque a Gabi fica tranquila na rua (leia-se, fecha a matraca), e nos dias em que saímos sentimos que ela dorme melhor. A Gabriela dorme e come tão bem como o irmão (possivelmente até melhor ainda), mas nós achamos que as noites, embora melhores, custam mais agora (não sei se estamos efectivamente mais acabados ou se simplesmente reprimimos o quanto nos custaram os primeiros meses do Matias).
Futurologia
Estou muito curiosa para ver o que aí vem. O Pedro volta ao trabalho mesmo antes do Natal, e estou expectante para perceber como vai ser gerir a miúda e o seu berranço, levar o Matias à escola e ir buscá-lo, gerir a casa sozinha durante o dia e gramar com as noites.
Também me parece que no geral a Gabriela vai ser uma bebé menos investida do que o Matias. A nossa vida está diferente, temos outro miúdo e outras responsabilidades, e possivelmente também temos outro enamoramento por esta fase porque sabemos que as seguintes são, sejamos honestos, mais fixes e divertidas. Por outro lado, e porque não pode ser tudo mau, também sentimos que somos agora muito mais confiantes e eficazes do que éramos antes, e no geral sinto que conseguimos corresponder às necessidades da miúda de uma forma mais rápida, até porque agora somos mais experientes.
Um óptimo exemplo disso é a questão das noites. O Matias sempre dormiu muito mal no nosso quarto. Por outro lado, eu também dormia muito mal com o Matias no nosso quarto. Vai daí, passámos o miúdo para o quarto dele com um mês. Na altura foi um mega drama, os protocolos isto, a morte súbita aquilo, que negligentes. Agora voltou a repetir-se a problemática, por isso a miúda foi para o quarto dela esta semana, sem qualquer drama, com zero sentimentos de culpa e com noites muito melhores para todos.
Por outro lado, também é muito mais giro ver a interacção do Matias com a Gabriela. Ele continua muito entusiasmado, adora encher a irmã de beijos e faz as perguntas mais deliciosas. Esta semana quando passámos a miúda para o quarto dela ele disse logo 'Yey, mana está tão crescida! Já fala?' :D
E pronto, a vida corre tranquila :)