20 de março de 2022

Festa Minnie #1

O estrabismo é o meu trauma. Todos temos direito a um (e alguns a vários), e talvez dentro dos traumas este soe tonto ou pouco importante. Na verdade, olhando para a minha vida, diria que teria razão para ter um conjunto simpático de outros traumas - mas, infelizmente, não somos nós que escolhemos o que nos faz sofrer mais ou menos. 

Sou estrábica desde que sou pessoa, a Joana estrábica é uma redundância porque é a Joana. Com três cirurgias no lombo (quatro se contarmos com o laser que, não estando directamente relacionado com o estrabismo, foi potenciado por este), um estrabismo convergente que se tornou divergente e inúmeras horas a olhar de forma persecutória para as minhas fotos do casamento, o estrabismo é o meu trauma. Pelo caminho fiquei sem visão binocular, adeus filmes 3D, condução de aviões ou carros da fórmula 1 e uma carreira brilhante em especialidades cirúrgicas porque tenho zero noção de profundidade. 

Quando a Gabriela nasceu era estrábica, mas há bebés assim. A Gabriela cresceu e para mim continuou estrábica, mas o Pedro dizia sempre que era do meu trauma, que estava tudo bem e que não havia motivo para preocupação. 

Até que começou a haver. E se eu pensava que o estrabismo era o meu trauma ainda não tinha visto nada, porque nem imaginam as proporções que isto tomou quando o passei à miúda. 

Não estou a ser chorinhas, a culpa é minha e dos meus genes estrábicos. É o que é, sem deprimência associada, que passei-lhes os genes foleiros mas também os impecáveis, sou inteligente, engraçada, sensível e criativa, gosto de dormir e de comer e tenho bons dentes e mandei-lhes isso de presente num embrulho fofinho. De bónus foi o estrabismo, a hiperactividade e a intolerância à frustração, é assim a vida. 

Resta tentar evitar que o estrabismo seja o trauma da Gabriela, mas até ver estou a fazer um trabalho péssimo. Quando a colega do Pedro fez o diagnóstico literalmente chorei na consulta, e quando três meses depois a mesma colega disse que a cirurgia ia ser na semana seguinte vim pelo caminho até casa a planear todo um lanche da Minnie para apaziguar nem sei bem quem. 

Seis dias depois a Gabriela acordou, comeu dois pães, dois queijos da Babybel, um iogurte e três marinheiras de chia (os meus filhos comem mesmo muito, deve ser para compensar o que gastam), fomos à praia, a Joana veio lá ter, bebemos um café na esplanada, demos uma voltinha na Quinta Pedagógica e demos entrada no hospital. A Gabriela vestiu um pijama com animais, deu cambalhotas e saltos na cama e entrou no bloco ao colo das enfermeiras, a rir e a adorar a atenção, sempre Gabriela. 

Quando a anestesista começou o procedimento foi todo um release the Kraken horrível, que nós já vimos inúmeras vezes mas que doeu de caraças cá dentro. Fizemos-lhe festinhas até bem depois dela ficar sedada, e depois saímos, sentámo-nos numas cadeiras que o Pedro começou a gabar e eu desmanchei-me. Chorei compulsivamente durante cinco minutos e depois limpei as lágrimas e reconstruí-me. O pós-operatório foi muito difícil, e a Gabriela gritou ininterruptamente durante duas horas de uma forma primitiva que eu nunca tinha visto (e só Deus sabe que a Gabriela nunca se inibiu de gritar durante horas seguidas, mas não assim de uma forma tão desorganizada, parecia possuída coitada). Viemos para casa e demos-lhe pão e banho simultaneamente porque tínhamos prioridades diferentes, a dela era encher a barriga e a nossa era tirar-lhe o Betadine dos cabelos. Depois seguiram-se horas de músicas do Panda e os Caricas e um total de quatro pães (fora a sopa, o prato e a fruta do jantar). 

E no dia seguinte tivemos lanche da Minnie. Com pessoas de quem gostamos e que gostam de nós, com a Gabriela feliz e a comer mais pão e com conversas, risos e mimos. Os próximos dois meses serão ainda de recuperação, primeiro com um agravamento enorme (a Gabriela está agora significativamente mais estrábica, faz parte da recuperação) e com o tempo com uma melhoria que será na melhor das hipóteses a curto-médio prazo e nos nossos sonhos mais ambiciosos para sempre. Sei que a miúda está em boas mãos: afinal, quem melhor para lidar com isto do que um pai oftalmologista e uma mãe estrábica? 

E já não tenho medo. Afinal, se for preciso nova cirurgia, depois temos lanche do Panda e os Caricas para animar a malta :)

O cartaz da Minnie comprei no Etsy da Lela's Sweet Designs e mandei imprimir na gráfica




Comprei de prenda pós-cirurgia :)
Fiz com o layout do cartaz e com letra da Minnie :)



Cupcakes de limão e doce de leite da Marta da Bolos e Bolinhos Atelier, que mais uma vez alinhou nos meus devaneios :D

Os brigadeiros da Marta também, maravilhosos como sempre!




Obrigada Deus Nosso Senhor por teres criado o Pinterest e as suas ideias maravilhosas <3