O primeiro mês da Gabriela foi muito, muito duro, e sempre que falo do assunto conto um episódio que nos aconteceu a dada altura.
Nas primeiras semanas de vida da Gabriela (e agora também, mas em menor escala) era notório que ela se tranquilizava melhor comigo. Não chorava tanto comigo, comia melhor comigo, adormecia melhor comigo, por aí. Ora, cá em casa sempre fizemos tudo em equipa, e por isso continuámos a dividir as tarefas, os biberões e o colo. E não foi nada, nada fácil. Uma manhã, o Pedro estava com a Gabriela na sala e eu estava no quarto a tentar dormir. Ela berrava imenso. E eu levantei-me tresloucada, cheguei ao início do corredor e gritei 'porque é que tu nunca consegues calar a miúda?!'. O Pedro levantou-se, foi para o corredor e gritou 'vai para o caralho!'.
Ficámos em choque a olhar um para o outro, cada um numa ponta do corredor. E ali, naquele momento, eu percebi que nunca me tinha sentido tão longe do Pedro.
Sabem, cá em casa a parentalidade assenta-nos bem. Somos super práticos e optimistas, por isso tendemos a simplificar tudo. Mas os primeiros tempos da Gabriela puseram à prova a nossa postura de uma forma indescritível. Senti-me sozinha, senti-me incapaz, senti-me desligada. Ainda sinto, algumas vezes. A dada altura o Pedro sentia-se tão mal que achou que morria. A dada altura eu sentia-me tão mal que achei que fugia. Mas estamos aqui. Ninguém morreu, ninguém fugiu, simplesmente respirámos fundo e aceitámos.
Por isso quando virem mais um passeio pelo meu Instagram, por favor não mandem mensagens a perguntar como é que eu consigo e vocês não. Eu não sou perfeita, não sou uma mãe perfeita, não sou nem pretendo ser inspiração para ninguém. Sou uma mãe normal, para quem sair de casa é imprescindível para não fritar a pipoca (ou então em alternativa ficar em casa no modo pastelanço máximo, eu só tenho esses dois estados de espírito). Não se sintam menos capazes, menos felizes, menos orientadas. Se sentirem, deixem de ler e de seguir, a sério. A parentalidade já é difícil, não precisamos de andar a comparar-nos com os outros e a sentir-nos ainda piores.
Hoje a Gabriela chorou das três às cinco da manhã. A dada altura, eu chorei também. Depois comeu às sete, adormecemos novamente e eu acordei às dez. Ela ainda dormia. Levantei-a, fomos levar o mano à escola e depois arrancámos as duas para o Chiado, onde fomos à Manteigaria, ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, ao Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado e ao Kaffeehaus. Eu fui mostrando isto nas stories e começaram a cair mensagens a perguntar como é que eu consigo.
Não deixem que a vida dos outros vos faça sentir mal com a vossa. Não deixem que as outras pessoas vos façam sentir piores mães ou mulheres - caramba, já bastam os dias difíceis para nos sentirmos umas incapazes, não precisamos de mais ninguém a bater no ceguinho. Se vos apetecer fazer coisas, façam sem medos, com panos, mochilas ou carrinhos, com sol ou chuva, com mama ou biberão, com bebés calmos ou bebés rezingões. Se não vos apetecer, não façam, mas não se sintam culpadas por isso.
Ser mãe e pai já é difícil que chegue, a sério.