1 de janeiro de 2020

2020.

Acordei cedo para dar o biberão à Gabi. O Matias acordou e ficámos os três no sofá, a ver o Planeta do Tesouro enquanto a Gabriela dormia ao meu colo. O filme acabou, o Matias foi brincar com os Legos, eu fui acordar o Pedro e a Gabriela ficou na espreguiçadeira. Fiz uma torta de lemon curd e doce de leite que teve umas quantas peripécias, tal como quase todos os meus cozinhados. Organizei tudo para o jantar. Tomei um banho bom. A minha sogra chegou e tomámos café na cozinha enquanto conversávamos e ríamos. O Matias acordou da sesta com febre e com dores de garganta.

Deixámos os miúdos com a minha sogra e fomos ao Zero Latency com o Bernardo, a Joana, o Nuno, a Carina e o Miguel. Nunca tínhamos ido e foi muito divertido. Voltámos para casa e começámos as preparações para o jantar. O Matias comeu uns quarenta camarões. Fizemos batatas recheadas com chili e ficaram uma delícia. Conversámos muito, rimos ainda mais. Aprendemos a jogar Carcassonne e eu ganhei o primeiro jogo nem sei bem como. Estávamos tão entretidos que quando percebemos faltavam dois minutos para a meia-noite.

Quando a Carina se levantou do sofá derrubou o computador do Pedro, que caiu com um grande estrondo, e no meio da confusão bateu a meia-noite. Abraçámo-nos todos. Eu e o Pedro fomos ver se o Matias estava bem (por causa do barulho do fogo de artifício e da febre e tal) e a Carina, o Miguel e o Bernardo foram abrir o champanhe e preparar as sobremesas. O Matias acordou um bocadinho, por isso eu e o Pedro ficámos sentados na cama dele a fazer-lhe festinhas até ele adormecer novamente. A Gabriela dormia tranquilamente no quarto dela. A Leonor dormia tranquilamente na nossa cama. Os nossos amigos estavam a conversar na nossa cozinha.

Eu abracei o Pedro e disse-lhe 'temos uma família linda'. O Pedro disse 'pois temos'. E ficámos ali, a olhar um para o outro, abraçados, a ouvir a respiração do nosso filhote adormecido e os risos dos nossos amigos a vir da cozinha.

E eu percebi que não tenho grandes reflexões a fazer sobre 2019 nem grandes desejos para 2020. Queria parar o relógio ali mesmo e viver naquele momento para sempre. Mas os segundos passaram e fomos novamente engolidos pela azáfama das conversas, dos jogos de sueca italiana, dos biberões de madrugada e da febre do Matias, das arrumações, das mensagens de bom ano que não tinham sido respondidas, dos filmes e das brincadeiras aos lobos, dos dinossauros espalhados pelo chão, do berranço da Gabi, das caixas de enfeites de Natal que decidimos retirar hoje em preparação para a minha festa de anos e das máquinas de lavar louça e roupa que não se fizeram ontem.

Enquanto escrevo isto o Pedro dorme no sofá coberto com o meu cobertor fofinho, a Gabriela dorme na espreguiçadeira à nossa frente e o Matias dorme no quarto dele. A casa está arrumada e o silêncio só é quebrado pelo barulho da máquina de secar a trabalhar. Amanhã fazemos doze anos de namoro. Daqui a cinco dias faço anos.

2020 começa e hoje é um dia como outro qualquer. E é perfeito, precisamente por isso.