18 de dezembro de 2019

Um mês de Gabriela (parte 2).

Ontem estava bom tempo e aproveitámos para ir todos buscar o Matias à escola a pé. A caminho de casa ele pediu para ir ao parque, e quando estávamos a voltar do parque perguntou se podia ir para casa da vovó Mi (a minha mãe).

Ficámos sem saber o que responder. Os meus pais vivem no Porto e têm imenso trabalho nesta altura do ano, e não sabíamos se iam estar disponíveis para estar com ele. Dissemos que íamos tentar combinar, e eis que os meus pais ficaram histéricos com a perspectiva de terem lá o Matias e decidiram vir hoje buscá-lo de comboio.

Vai daí, há duas horas fui buscar o Matias à escola (aproveitei para deixar as prendinhas de Natal deste ano, que são as minhas bolachas de amendoim e chocolate) e levei-o à estação. Encontrámo-nos lá com a minha mãe, ajudei-os a instalarem-se, vi o comboio partir e meti-me novamente no carro a caminho de casa.

Liguei as minhas músicas e vinha no trânsito a cantar... Quando tocou esta música.

I don't have a cent, will I pay my rent?
And even my car doesn't work.
Me and my man, he's the one to die for, we have split up.
 
Can't you see? Life's easy, if you consider things from another point of view.
In another way, from another point of view.

I see life and lights, all the colours of the world,
So beautiful, won't you come with me?
I see birds and trees, all the flowers of the world,
So beautiful, won't you come with me?

In another way, from another point of view.
Can't you see? Life's easy, if you consider things from another point of view.

E lembrei-me. Lembrei-me da Joana de doze anos, quando a música saiu, a ver o vídeo na MTV. A achar que a letra fazia todo o sentido e que a felicidade era uma questão de ponto de vista, do alto da sabedoria da minha adolescência.

E chorei no carro feita totó. Chorei com saudades do meu miúdo que está neste momento super feliz num comboio com a avó, a caminho de três dias de entupimento com bolachas e de brincadeiras com a gata. Chorei de felicidade porque o Natal está mesmo aí. Chorei de agradecimento porque estou a construir a família com que sonhava quando era adolescente e ouvia a música. Chorei porque continuo a acreditar, tal como aos doze anos, que a vida é boa e que a felicidade é uma questão de ponto de vista. Às vezes só precisamos mesmo de nos concentrarmos nas partes boas.