18 de janeiro de 2024

Queques de aveia e chocolate para uma viagem ao passado.

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma,
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma,
A vida não para.
Enquanto o tempo acelera e pede pressa,
Eu me recuso, faço hora, vou na valsa.
A vida é tão rara.
Enquanto todo mundo espera a cura do mal,
E a loucura finge que isso tudo é normal,
Eu finjo ter paciência.
O mundo vai girando cada vez mais veloz,
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós um pouco mais de paciência.
Será que é tempo que lhe falta pra perceber? Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer sabe? A vida é tão rara, tão rara.
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma,
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma,
Eu sei, a vida não para.

Lenine (não desfazendo a versão do João Pedro Pais e da Mafalda Veiga, o original é lindíssimo)

Há onze anos partilhei estes queques de aveia e chocolate pela primeira vez e falei do céu e de um estágio que já nem sequer recordo. Não me lembraria de ter feito medicina interna no Fernando da Fonseca, não consigo trazer à memória a cara da senhora e desconheceria esta história para sempre, se não a tivesse escrito no blog e imortalizado no meu livro. Vai viver para sempre, a Dona A., contada na história de alguém que também certamente esqueceu, afinal era só mais uma estudante de medicina a andar para trás e para a frente com bonequinhos na bata, e a Dona A. era só mais uma velhinha doente. 

Tenho pensado nisto, nas histórias que contamos e que são depois recontadas por outros quando já nem nos lembrarmos delas. O meu pai desapareceu mas é recontado constantemente, mesmo que nem me lembre bem do que conto, mesmo que não tenha assistido e seja já história contada com ponto acrescentado. 

De todas as histórias do meu pai, a que mais conto nem é particularmente feliz. Uma vez, ainda nem era eu psiquiatra da infância e da adolescência, o meu pai disse que na infância dele não havia doença mental, porque se alguém tivesse algum tipo de sintoma ia dormir uma semana para a casota do cão 'e passava-lhe logo'. 

Ele não contava isto com concordância, entenda-se. Era um facto, uma narração da realidade do antigamente dele. E eu nunca vi ninguém a dormir na casota do cão, nem ouvi da boca dos meus avós paternos que punham os filhos a dormir na casota do cão. Mas o meu pai contou-me um facto e eu conto uma história, e ele vive um bocadinho de cada vez nela. 

Talvez seja esta a vida eterna, os nossos factos serem transformados em lendas por quem já não nos vê e por quem nunca nos conheceu. Talvez vivamos para sempre assim. 

Queques de aveia e chocolate

Ingredientes (para dez queques): 

* 60g de flocos de aveia;
* 260ml de leite;
* 225g de farinha;
* Duas colheres de chá de fermento;
* 100g de pepitas de chocolate;
* Um ovo;
* 100g de açúcar amarelo;
* Uma colher de chá de essência de baunilha;
* Quatro colheres de sopa de óleo (ou 60ml). 

Confecção:

* Juntar o leite e os flocos de aveia e deixar absorver durante dez minutos; 

* Noutra tigela juntar a farinha, o fermento e metade das pepitas de chocolate;

* Bater o ovo com o açúcar amarelo e juntar a mistura do leite e dos flocos de aveia, a essência de baunilha e o óleo, batendo bem entre cada ingrediente;

* Juntar a mistura líquida aos ingredientes secos e misturar com uma colher de sopa apenas até os ingredientes ficarem ligados;

* Colocar em forminhas para queques e cobrir com as pepitas de chocolate restantes; 

* Levar ao forno pré-aquecido a 220º durante cinco minutos. Sem abrir o forno, baixar a temperatura para os 180º e deixar os queques no forno mais quinze minutos.