Em Junho contei-vos que íamos fazer uma nova festa de casamento, uma espécie de renovação dos votos sem renovação dos votos. O plano era juntarmos umas dezenas de pessoas cá na quinta, onde íamos montar duas tendas enormes e fazer tudo aquilo que normalmente as pessoas fazem nas quintas quando casam, menos o fogo-de-artifício porque continuo a achar desnecessário. Ia vestir-me de noiva novamente e fazer a festa das festas, celebrar o meu amor pelo Pedro, a nossa mudança, a nossa casa, o fim da especialidade, a vida.
Sete dias depois soubemos que o meu pai tinha recidivado da neoplasia. Tinha estado doente em 2021, foi operado, retirou-se todo o tumor, e recidivou um ano depois. Quando li o relatório do exame eu soube o que se seguiria, e a festa passou para milésimo plano.
No dia em que o meu pai morreu liguei à Mónica da Maria das Festas e disse-lhe que íamos ajustar a festa. Nunca me passou pela cabeça cancelá-la. O meu pai não era de todo pessoa de festas, mas sempre aceitou que eu era, sempre respeitou os meus sonhos, e, acima de tudo, gostava de comer, de beber e de viver. Na última conversa que tivemos (quando tivemos o privilégio de nos despedirmos) o meu pai falou do quanto viveu, e do quanto gostou de ter comido ostras em Málaga uns meses antes (herdei dos meus pais o meu amor por ostras, reza a lenda que quando foram a Nova Orleães comeram cinquenta ostras cada um num jantar).
Pois bem, houve ostras. Houve amigos. Houve festa. Não houve tendas nem vestidos de noiva, mas está tudo bem na mesma. A vida é curta demais para fazermos fretes, e naquele dia eu quis vestir a minha camisola nova, cor-de-rosa com brilhantes.
Não vou dizer que foi a minha festa preferida de sempre, porque não foi. Está envolvida num sentimento agridoce - afinal, tinha perdido o meu pai há praticamente uma semana. Mas recordá-la-ei para sempre como o momento em que os meus amigos estiveram comigo. E comi. E bebi. E vivi.