Quando o mês de Março começou havia mil casos de COVID-19 em Itália. Eram dois os casos diagnosticados em Portugal. Andávamos na rua com algum cuidado, mas ainda com uma sensação de segurança. Olhando agora para trás, parece-me estranho ter sido este o mês em que fui ao Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, passeei por Lisboa ou voltámos à Fragada D. Fernando II e Glória. Parece-me estranho ter sido este o mês em que fui à festa de Veneza da minha mãe. O tempo tem passado tão devagar que era capaz de jurar que já estamos em casa há meses, mas não: na verdade, nós estamos em quarentena desde o dia 11 de Março. Passaram três semanas.
Nestas três semanas saí de casa três vezes: uma para ir ao pão, outra para ir ao supermercado (temos mandado vir online mas entre 19 de Março e 1 de Abril não apanhámos datas disponíveis e precisámos de frescos) e outra para ir com a Gabriela ao centro de saúde fazer as vacinas dos quatro meses. Nestas três semanas o Matias não pôs o pé na rua. O Pedro continuou a trabalhar. Os meus amigos foram atirados para a linha da frente nas urgências. O meu irmão voltou da Suíça e ficou em quarentena sozinho.
Nestas três semanas o mundo mudou.
Durante algum tempo pareceu-me um bocado surreal continuar a mostrar as fotos do mês ou partilhar as fotos da festa da minha mãe. Mas por aqui aceitámos as novas rotinas com a serenidade de quem sabe que nada mais há a fazer: em Fevereiro passeámos, em Março ficámos em casa, em Abril ficaremos em casa também, tal como em Maio.
E sabem que mais? No meio disto tudo, eu sinto que tenho mesmo muita sorte. Posso ficar em casa com os meus filhos e não estou a trabalhar no hospital como todos os meus amigos ou em casa a trabalhar como muitas pessoas. Estamos protegidos aqui, dentro do possível, tendo em conta que o Pedro continua a trabalhar. Parte-nos o coração ver a confusão na cara do Matias quando o Pedro chega a casa e não o pode abraçar, mas estamos todos aqui, e estamos bem, nós e os nossos.
Daqui a duas semanas serei eu que não vou poder receber abraços quando chegar a casa. Mas uma parte de mim fica contente com isso: assim, o Pedro poderá vir para casa, ficar mais calmo e seguro e assistir diariamente a este privilégio que é ver os nossos filhotes a crescer.
E tudo passa. Tudo passa. Como diz o Sufjan Stevens na frase daquela que é possivelmente a minha música preferida e que inclusivamente tenho tatuada no braço, all things go. Como dizem os Bongo Botrako nessa música espectacular que me faz sempre pensar nos dias que passámos a trepar árvores, a comer amoras dos arbustos e a nadar no rio em Arenas, todos los días sale el sol. E se não for em Abril, Maio, Junho, Julho ou Agosto que voltarmos a passear, sei que será um dia. Até lá, estamos juntos. E isso é o mais importante.
Aqui vão as fotos restantes do mês de Março.
Na segunda semana de Março já se adivinhava a mudança do feeling
de segurança no nosso país. Na Terça-feira ainda saí para passear no
Mosteiro dos Jerónimos, mas senti-me tão insegura que depois disso
fiquei em casa em quarentena (no dia 11 de Março). No dia 12 o Matias já só foi à escola de manhã, e depois disso ficámos em casa. As escolas fecharam a 16.
Nas semanas seguintes fez-se a vida do costume: brincámos muito, fizemos panquecas de
banana e bolachas de amendoim e chocolate, troquei de seguro do carro
(ainda bem, agora que não preciso dele!), fiz queques, celebrámos o dia do pai, planeei a nossa festa da Páscoa, a festa de aniversário do Pedro e a nova festa de aniversário do Matias (porque serão passadas a quatro), vimos todos os episódios de The Good Place, brincámos muito aos dinossauros, comecei a aprender a dançar a Single Ladies, ensinámos o Matias a jogar dominó,
fizemos quizzes do Jetpunk, voltámos a jogar Farm Mania e fizemos exercício pelo menos cinco vezes por semana :)
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Como podem ver na foto acima, o Mosteiro dos Jerónimos ainda tinha imensa fila. A fila é para entrar na
igreja, que é gratuita. Para entrar no Mosteiro podem entrar
directamente, mostrando o bilhete (que se compra dentro do Museu de
Arqueologia). O bilhete custa 10€, e depois se quiserem visitar a igreja
têm de ir para a fila na mesma. Nesta fase os bilhetes compravam-se
numa máquina, ao lado da qual havia desinfectante para as mãos. O
Mosteiro em si não estava cheio e andava-se bem, e na igreja também
havia entradas controladas (daí a fila). Não fui para a fila porque pedi
prioridade (tinha a Gabi na mochila), mas o segurança ainda hesitou um
bocadinho antes de me deixar passar à frente. |
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Alexandre Herculano |
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Fernando Pessoa |
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Antigo refeitório :) |
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Como vêem não estava muita gente, mas já não se estava bem ali, já havia um sentimento de insegurança no ar. Saí a pensar que não devia ter ido. |
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Na igreja |
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Camões |
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Vasco da Gama |
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Gabi curtindo a sua quarentena |
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A sentir a sua vida em risco |
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Desde que estamos em casa o Matias simplesmente não tira o pijama. E não há problema, porque eu também adoro andar de pijama :) |
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O Matias agora chama à mana 'a minha bochechinhas' :D |
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A nossa bochechinhas :) |
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Panquecas de banana :) |
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Carmen de Bizet em stream da Metropolitan Opera :) |
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É a minha ópera favorita :D |
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Quatro meses de Gabizocas |
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Queques de amendoim e chocolate para o dia do pai :) |
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Mais queques, estes feitos com compotas de maçã e de morango e com crumble :) |
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Sobrou crumble e comprei um ananás que não era nada de especial, por isso na semana seguinte saíram estes queques de ananás com crumble de coco :) |
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No Sábado precisámos de pão, mas em vez de ir comprar mandei vir pelo Glovo e aproveitei para mandar vir também croissants e pastéis de nata :) Por outro lado, esta quarentena está a tratar bem a nossa dieta, e continuo a conseguir perder peso YEY :D |
E pronto, que Abril nos traga boas notícias! :)