Esta é uma das perguntas que mais nos fazem: e como está a reagir o Matias à mana?
Confesso que nós estávamos razoavelmente optimistas. Sempre falámos ao Matias de ter manos (assim mesmo, no plural). Ele tem bebés bem pequeninos na escola dele, e por isso já tinha as expectativas ajustadas. É um miúdo muito independente e já bastante autónomo: veste-se, brinca sozinho, prepara o seu próprio pequeno-almoço, come sozinho, fala bem, etc. Nunca embandeirámos em arco esta questão de ter uma irmã, e sempre lhe explicámos que nos primeiros tempos a miúda ia basicamente existir. Nunca deixámos de lhe dar atenção, colo ou mimos (às vezes à custa de desinvestirmos um bocadinho na mais pequena, mas continuo a achar que nesta fase ela precisa é de mimos e descanso e isso pode ter no nosso colo enquanto brincamos com ele). Enfim, estávamos tranquilos.
Mas nada nos ia preparar para o que realmente aconteceu.
No dia em que entrei em trabalho de parto os meus pais vieram cá a casa buscar o Matias e levaram-no para casa do meu irmão. Ele sabia que eu ia para o hospital e que a mana ia nascer, e estava muito feliz. O nosso plano inicial era o Pedro levá-lo ao hospital no segundo dia e termos alta para casa todos juntos, mas estava tudo tão tranquilo que o Matias acabou por ir ao hospital de manhã, ir passar o dia à escola e voltar à tarde. E desde o primeiro momento que o Matias está apaixonado pela irmã.
Ainda nem ele tinha entrado no quarto do hospital, já eu o ouvia super contente pelo corredor fora. Mal entrou, disse logo que 'a mana era linda'. Quis pegar nela ao colo, mexer nela e dar-lhe beijinhos. Trazia um peluche que tínhamos comprado no Oceanário três dias antes para oferecer à irmã (ele quis comprar um para ele e um para ela), mas achou que como a miúda não ligava nenhuma podia ficar com os dois. Na escola ditou uma carta à educadora (obrigada Isabel, fartei-me de chorar com este gesto) que dizia:
'A mana ainda é pequenina, é bebé. Ela é linda e dói-lhe a barriga. Eu tenho de pegar nela ao colo.'
Ao fim da tarde quando tivemos alta o Matias ficou felicíssimo quando percebeu que ia sentado na cadeira ao lado da irmã, e desde então sempre que andamos de carro não preciso de espelho, porque o Matias relata tudo o que acontece com um entusiasmo muito engraçado.
E diz à irmã as coisas mais lindas. Quando ela chora diz-lhe 'não chores pequenina, o mano está aqui' ou 'pronto, está tuuuudo bem mana'. Pede-nos constantemente 'abraços de família', onde nos abraçamos todos. Quando eu estou a dar o biberão à Gabriela e ele vem dar beijinhos de boa noite, diz 'boa noite minhas fofuras'.
Nós sempre achámos que o Matias tinha personalidade de irmão mais velho. É rígido e autoritário, mas também muito protector e carinhoso. Está sempre a dizer que 'é muito crescido'.
Estávamos preparados para regressões e ciumeiras, mas nada aconteceu: na verdade, o Matias parece agora ainda mais crescido e desenvolvido. Adora ajudar com as tarefas relacionadas com a irmã (sendo que a preferida dele é obviamente dar-lhe banho), fala imenso com ela, põe as coisas dele nas mãos dela e até promete que vai partilhar a comida com ela 'quando ela tiver dentes'.
Nos primeiros tempos esta vontade de cuidar chegou a ser difícil de gerir, e cheguei a estar a dar o biberão à miúda na sala às quatro da manhã e o Matias aparecer e recusar-se a ir embora. Entretanto explicámos que ele podia ajudar ficando na caminha e tentando adormecer, e ele lá percebeu. Hoje de manhã a Gabriela estava a chorar e eu demorei um bocadinho mais a levantar-me, e lá foi o Matias dizer 'a mamã vem já, tem calma pequenina'. Depois levámo-lo à escola, e antes de sairmos do carro ele fez uma festinha na cara na irmã e disse 'tem um bom dia Gabriela, porta-te bem, dorme bem e deixa a mamã dormir porque senão ela fica com uma cara maldisposta'.
(Olhem que sábio ham?)
O que é que eu fiz de tão bom para merecer este filho, a sério? Eu até me tenho em boa conta a nível educacional (modéstia à parte), mas este miúdo é o máximo, e parece cada vez mais giro, mais fofo, mais engraçado e mais observador.
E acima de tudo, apesar de todo o berranço e cansaço, olhar para os meus filhos enche-me tanto de amor e de orgulho que às vezes sinto que vou explodir. Às vezes choro de alegria. Às vezes fico incrédula com a sorte que tenho.
Só me resta agradecer. Agradecer aos meus antepassados e aos do Pedro pelos bons genes (pronto, há o estrabismo, a tendência para coisas alérgicas e os traços obsessivos, mas podia ser pior!). Agradecer ao Pedro por ser da minha equipa. Agradecer à especialidade que escolhi e que me ensina coisas úteis. Agradecer à vida, ao mundo, à sorte, ao destino e ao céu, a tudo o que existe.
Ontem o Matias disse que queria ter 'dez manos'. E é isto que eu vou passar a responder quando alguém perguntar 'e como está a reagir o Matias à mana?'.