Oh, happy day, oh, happy day,
When my Jesus washed
Oh, when He washed my sins away.
When my Jesus washed
Oh, when He washed my sins away.
He taught me how, how to watch,
How to fight and pray, fight and pray,
And living rejoicing everyday.
How to fight and pray, fight and pray,
And living rejoicing everyday.
Aretha Franklin
Nunca gostei muito da Páscoa. Penso que o trauma começou quando ainda era pequena e era obrigada a levantar-me cedo, vestir um vestido feio que picava e assistir a uma missa interminável pautada por senhoras a cantar como as da ópera.
(Uns anos mais tarde comecei a adorar a parte do coro, mas as outras continuaram igualmente aborrecidas.)
Depois voávamos para casa para receber o compasso. Seguia-se uma correria desenfreada para deixar toda a casa imaculadamente perfeita, enquanto os sinos dos senhores da confraria se aproximavam cada vez mais. E eu não conseguia evitar pensar na quantidade de pessoas que tinham beijado os pés do crucifixo antes de mim, na falta de higiene disso e no desperdício de energia que era arrumar tudo para uns senhores velhotes que estavam em nossa casa literalmente dois minutos.
(Uns anos mais tarde deixámos de receber o compasso em casa.)
Seguidamente era a hora da discussão interminável sobre se o cabrito já estaria pronto ou não. Chegada a hora de almoçar (que, na Páscoa da minha infância, era por volta das três da tarde), eu enchia o prato de roca quentinha a transbordar de manteiga derretida, batatas assadas e arroz amarelo com chouriço.
(Uns anos mais tarde continuo sem gostar de cabrito. Entretanto os meus pais começaram a juntar miúdos do cabrito no arroz, por isso actualmente o meu almoço da Páscoa é constituído por esparregado de grelos e batatas assadas.)
Levantávamos a mesa e era a hora das sobremesas: aletria para o meu avô, o pudim molotof da minha mãe e amêndoas com cobertura de açúcar. Eu nunca gostei de aletria, ainda não era apreciadora de pudim molotof e tinha medo de partir um dente com aquelas amêndoas duras e demasiado doces, por isso optava por comer saladinha de fruta com um ar infeliz e miserável.
(Uns anos mais tarde sou eu que cozinho as sobremesas, por isso há sempre alguma que goste.)
Depois os meus pais iam dormir a sesta e eu ficava a ver filmes na televisão, enquanto me questionava como é que a Páscoa podia ser tão aborrecida quando o Natal era tão bom.
(Uns anos mais tarde também durmo a sesta. E sabe mesmo, mesmo bem.)
Confesso que não tenho saudades da Páscoa da minha infância. Talvez esteja a ser injusta, mas na verdade esta altura do ano nunca me disse nada de especial.
Até que cresci. Deixei de viver com os meus pais, e qualquer celebração é uma boa desculpa para estar com eles. Deixei de receber o compasso, e sinto saudades do tlim tlim do sino e da adrenalina de ter tudo pronto antes dos senhores entrarem em nossa casa. Deixei de ir à missa, e sinto saudades de ser invadida pela voz das cantoras líricas.
Acima de tudo, aprendi a criar as minhas próprias tradições. E agora na nossa Páscoa não falta o pão-de-ló de Ovar caseiro.
Eu sei que já passaram três meses desde a Páscoa, e peço desculpa por isso. Tinha muitas receitas em lista de espera, e confesso que estive a controlar-me para não publicar esta antes do tempo. Porque juro-vos que este foi o melhor pão-de-ló que já comi: tostadinho por cima, líquido e cremoso por dentro e com o ácido do curd de limão a equilibrar na perfeição o doce de ovo.
Garanto-vos que com receitas assim é impossível não gostar da Páscoa.
Pão-de-ló de Ovar com curd de limão
Ingredientes:
Para o pão-de-ló de Ovar:
* Doze gemas;
* Um ovo grande;
* 200g de açúcar;
* Uma pitada de sal;
* 70g de farinha de trigo.
Para o curd de limão:
* 190ml de sumo de limão;
* Uma colher de sopa de raspa de limão;
* Meia chávena de chá de açúcar (oito colheres de sopa);
* 100g de manteiga sem sal;
* Três ovos.
Confecção:
* Para o curd juntar o sumo de limão, a raspa de limão, o açúcar e a manteiga e aquecer em lume brando até a mistura ficar homogénea;
* Numa tigela à parte bater bem os ovos com uma vara de arames;
* Juntar em fio a mistura de limão, mexendo sempre com a vara de arames;
* Levar a mistura novamente a aquecer em lume brando até o molho engrossar;
* Deixar arrefecer e conservar no frigorífico;
* Para o pão-de-ló bater as gemas, o ovo, o açúcar e o sal durante dez minutos;
* Juntar a farinha e envolver cuidadosamente com uma colher;
* Colocar a massa numa forma coberta com duas folhas de papel vegetal (que ultrapassem as bordas da forma) e levar ao forno pré-aquecido a 180º;
A partir daqui depende de como gostarem mais do vosso pão-de-ló. Cá em casa gostamos dele relativamente caramelizado por cima mas muito húmido por dentro, por isso deixei durante dez minutos com a ventoinha ligada e posteriormente deixei mais cinco minutos com a resistência de cima ligada (e com o pão-de-ló no tabuleiro de cima do forno). Se gostarem dele mais cozido, então vinte minutos serão suficientes creio eu. Se gostarem dele mais homogéneo, coloquem uma folha de papel de alumínio sobre o pão-de-ló se começarem a ver que fica demasiado corado por cima.
Até amanhã! :D