Há um ano e meio fui para o Porto sozinha com o Matias. Como o desfralde ainda era relativamente recente, achámos que ir e voltar de comboio seria mais prático. No regresso o Matias decidiu querer andar de um lado para o outro cheio de energia, e quando lhe disse que não podia ser fez uma birra monstra, com direito a gritaria e choradeira.
Eu não tinha uma experiência assim tão grande a lidar com este tipo de birras porque não eram de todo habituais: o Matias sempre foi mais adepto de amuar e ficar parado nos sítios (sentar-se na rua, ficar deitado no chão da sala, ir para o quarto agarrar-se aos cobertores fofinhos, por aí fora), e reconheço que a minha ansiedade em relação à questão não ajudou. Mas penso que nada justificava o que se passou a seguir.
Uns vinte minutos depois do início da birra, um senhor que estava no outro lado do corredor e que estava desde o início a mandar olhares furtivos, a acenar negativamente com a cabeça e a bufar de irritação, tirou os fones dos ouvidos (porque sim, ele estava de fones, talvez a ver uma série ou um filme) e perguntou em voz alta:
'Olhe, não quer calar o seu filho?'
Vai daí, eu respondi-lhe:
'Olhe, não quer ir para o caralho?'
Tenho zero de orgulho neste momento, juro. Fiquei para morrer de tanta vergonha, o Matias obviamente sentiu que eu estava nervosa e ainda fez pior, e quando o Pedro nos foi buscar à estação cheguei ao carro e desatei a chorar. O Matias ficou normalíssimo e nunca mais andámos de comboio os dois (entretanto ele já andou com a minha sogra e a minha mãe e correu tudo lindamente, sem dúvida à custa de subornos melhores do que os meus).
Daqui a uns meses vou para o México de férias com a Joana e o Bernardo. Inicialmente íamos todos, mas o Pedro não queria mesmo levar os miúdos (porque diz que nem descansamos como gostaríamos nem fazemos tanto como faríamos sem eles), mas também não queria deixá-los cá porque achava que a Gabi ainda é pequenina (o que eu concordo, e por isso é que a minha sugestão sempre foi levá-los). Face à ausência de alternativas, o Pedro decidiu ficar (diga-se que também não fica a chorar, o México até é um destino que lhe agrada mas podemos sempre ir todos daqui a uns anos). E nós começámos a ver hotéis.
Rapidamente se tornou óbvio para mim que a Joana e o Bernardo queriam ir para um hotel só para adultos. E foi muito engraçado perceber esta diferença, porque eu fazia questão de ir para um hotel com miúdos. Para mim não há nada mais relaxante do que estar num sítio com crianças aos saltos, a fazer bombas para a água, aos gritos, a fazerem birras descomunais e afins, e sabem porquê?
Porque não são minhas.
Não é a minha responsabilidade, não é problema meu e o máximo que posso fazer é empatizar com o sofrimento daqueles pais, rezar que o tau passe depressa aos miúdos e beber mais um golinho de pinacolada. Longe de me incomodar ter crianças a fazer barulho à minha volta quando não estou com as minhas, na verdade acho terrivelmente relaxante. Uma espécie de 'ufa, do que eu me estou a safar'.
A Joana e o Bernardo acharam isto estranhíssimo, mas a verdade é que efectivamente já reservámos (YEY!) e vamos mesmo para um hotel com crianças. E eu mal posso esperar, a sério. Sei que vou morrer de saudades dos meus pequeninos (Pedro também conta como meu pequenino), mas também acho que me vai fazer um bem danado pirar-me durante uns tempos, e já tenho saudades de viajar com aquelas duas almas de quem gosto tanto (e com quem não viajo a sério desde aquela viagem espectacular que incluiu Miami, Bahamas, Everglades e Orlando).
Vamos a isto :D