'Pois olhem, ainda agora liguei à minha mulher e ela está muito tranquila, parece que encomendou pipocas e Coca-Cola do cinema pelo Uber Eats e está muito contente a ver o Harry Potter...'
Três horas depois, recebeu uma foto pelo WhatsApp com o Matias a olhar para um grupo de pinguins. Fui buscá-lo mais cedo e fui a conduzir até ao Parque das Nações. Passámos três horas no Oceanário (já que é para andar, pelo menos anda-se num sítio giro e relaxante). Foi muito giro. Aparentemente fez zero pelo início do trabalho de parto, mas foi tão bom que nem me importo muito.
Apesar de todas as queixinhas, e agora que (pausa para revirar os olhos) está quase, é inegável que esta gravidez também teve coisas extremamente boas. Vou ter outra filhota, o que enche o meu coração de alegria. É menina, o que me deixa relativamente assustada, mas também muito entusiasmada. O Matias parece feliz e ambos achamos que será uma transição mais ou menos suave (ou tão suave como pode ser esta mudança tão grande numa fase tão complexa do desenvolvimento deles). Mais uma vez o meu corpo aguentou uma gravidez sem grandes problemas e até ao fim (vai útero, são os teus anos!). Ainda não parti nenhum osso, o que é positivo.
Ainda consigo conduzir, calçar-me, fazer a depilação e ser autónoma no geral. Consegui acompanhar o Matias a gravidez inteira e dei-lhe o colo que ele quis. Nem estou a dormir particularmente mal (reformulando: creio ter dormido bem pior na gravidez do Matias). Sofro menos de azia do que na gravidez do Matias, até porque se na dele não tomava nada, nesta ao mínimo sinal engulo logo o belo do inibidor da bomba de protões. Já não tenho as inseguranças que tinha em relação à parentalidade (tenho outras dúvidas diferentes, mas sei que sou boa mãe).
Sinto que esta gravidez me tornou mais próxima de amigas que se calhar não eram assim tão próximas anteriormente, mas que passaram pela mesma experiência ao mesmo tempo que eu (e quase todas já pariram, as estúpidas). No geral senti-me mais apoiada e compreendida, até porque quando engravidei do Matias fui a primeira, mas agora já há uns quantos bebés à minha volta.
Foi muito bom acompanhar o Matias nesta transição e assistir enquanto ele fazia as descobertas inerentes a esta fase. Enche-me o coração de felicidade ouvi-lo dizer que um dia vai querer dormir com a mana, que vai tomar conta dela, que quer comprar um peluche para ela, que vai ajudá-la a comer com a faca quando for mais crescida.
Ter uma filha que nasce perto do Natal é fixe. É claro que vou parecer uma baleia atropelada na sessão fotográfica de Natal, mas vamos ser quatro e a Gabriela vai ter um vestido com folhos, por isso acho que consigo relativizar a questão.
A saga do nome não aconteceu, e foi para nós óbvio desde o início que se fosse miúda ia chamar-se Gabriela. A nossa menina da canção.
Não ouvi grandes bitaites do resto da malta, ou então já aprendi a ligar o macaco dos pratos quando me cheira a intrusividade. Também sinto que no geral (e à excepção desta última fase em que toda a gente está histérica) as pessoas à minha volta andaram mais tranquilas e mais serenas, embora estejam claramente entusiasmadas.
Eu muitas vezes |
Sim, esta gravidez teve coisas más. Teve muitas queixinhas. No geral não me senti bem, estado de graça nem vê-lo, e estou mais do que preparada para que esta bodega termine. Mas olhem, é o que é. Sei que passaria por tudo outra vez num piscar de olhos, e pior: sei que daqui a uns meses já vou andar a relativizar a questão de só acabar o internato daqui a trinta anos e vou querer ter mais filhos. Mesmo que isso implique andar insuportável durante estes meses todos.
Porque ser mãe é mesmo a melhor coisa do mundo. E no meio de todas as queixas, dificuldades, chatices, dúvidas, problemas e mudanças (umas óptimas, mas outras extremamente desagradáveis), não podia estar mais feliz com o caminho que estou a percorrer na vida.