Quanto mais penso no assunto, mais acho que as primeiras gravidezes não deviam existir e devíamos passar directamente para as segundas. Sinto uma serenidade que não julgava ser possível. Há muito pouco para decidir, para comprar e para organizar, e sabemos que temos muito tempo para o fazer.
A feijoca ainda não tem nome definido, e se hoje achamos de certeza que é Penélope amanhã já gostamos mais de Esmeralda (ambos nomes da minha lista que o Pedro chacinou, não se preocupem)? Há tempo para decisões e esta fase é divertida.
As minhas amigas andam preocupadíssimas a fazer documentos do Excel sobre as creches, tal como eu fiz com o Matias? A feijoca vai para a mesma creche, done.
Na gravidez do Matias tinha listas infindáveis de enxoval que me deixavam a tremer da pálpebra só a pensar como ia comprar e arrumar tudo aquilo cá em casa? Agora é só comprar algumas coisas que se foram estragando (biberões, fraldas de pano, babetes), e ainda temos imenso tempo para isso.
Dúvidas existenciais sobre a maternidade? Já tenho um filho, amo-o com todas as minhas células e adoro ser mãe, feito.
Dúvidas sobre o efeito da parentalidade no casamento? Ver o Pedro a ser pai é das coisas mais divertidas e amorosas da história.
Medo de ficar balofa para sempre? Depois de ter o Matias perdi todo o peso que ganhei na gravidez (demorei foi algum tempo a estar preparada para investir nisso), por isso não há razão para não fazer o mesmo agora (especialmente porque estou ainda mais balofa).
Enfim, está tudo super tranquilo - e ainda bem, porque a insuficiência mitral piorou em força neste início do segundo trimestre, e entre a viagem à Irlanda e a festa de aniversário do Matias (que foi ontem), ando a arrastar-me pelos cantos e a rezar aos santinhos que me deixem aguentar a trabalhar até ao fim de Junho.
É claro que continuo a ter as minhas crises existenciais. Às vezes tenho medo da reacção do Mati ao nascimento da mana. Continuo a não querer amamentar (e o Pedro quer que eu amamente, e continuo a achar palavra por palavra o que escrevi aqui sobre a amamentação). Questiono-me como vou ter energia para os dois, principalmente se a miúda for tão malandra como o Matias (e penso frequentemente que eles vão ser tantos como nós, o que me assusta um bocado).
Mas depois penso que há tempo. Há tempo para preocupações. Há tempo para angústias. Há tempo para dúvidas existenciais. E depois a miúda vai nascer e tudo vai ficar bem eventualmente.