My tea's gone cold,
I'm wondering why I got out of bed at all.
The morning rain clouds up my window,
And I can't see at all.
And even if I could it would all be gray.
The morning rain clouds up my window,
And I can't see at all.
And even if I could it would all be gray.
But your picture on my wall,
It reminds me that it's not so bad,
It's not so bad.
It reminds me that it's not so bad,
It's not so bad.
Eminem
Vivo perto de um cruzamento relativamente grande onde é frequente existirem acidentes de carro. De facto, não é raro estarmos sossegados no sofá e ouvirmos algo bastante semelhante a 'iiiiiiiiii pum!'.
Vamos sempre espreitar à janela, não vá alguém precisar de auxílio médico imediato - e porque, como bons portugueses, somos pessoas com alguma curiosidade mórbida - mas a verdade é que há oito anos que cá vivemos e nunca foi necessária uma intervenção da nossa parte.
Até agora.
Na semana antes de eu ir para Nova Iorque, estávamos a conversar na cama. Era Sábado à noite e o relógio batia já a uma da manhã. Sinceramente já nem me recordo sobre o que falávamos, mas sei que a conversa foi interrompida por um som seco, diferente do que já tínhamos ouvido até então. Ficámos na dúvida se teria sido um acidente, e abrimos a janela.
Estava um moço estendido no meio da rua.
Cedo se tornou óbvio que o rapaz não estava lá muito bem. Juntou-se um grupo de pessoas à volta dele, mas ninguém parecia estar a fazer grande coisa. Por isso nós levantámo-nos na cama, vestimos os casacos e saímos de casa.
E foi assim que cheguei à minha primeira assistência médica: com um pijama com ovelhinhas coberto com um casaco com biscoitinhos.
É claro que nós não percebemos um bacalhau do que se deve fazer nestas situações. Eu sou psiquiatra, o Pedro é oftalmologista. Nenhum de nós está habituado a lidar com urgências que não sejam adolescentes agressivos e areias no olho. Mas continuamos a ser médicos, e temos a obrigação ética de tentar ajudar como conseguimos quando é necessário.
Pegámos em toalhas molhadas, quais parteiras do século XIX, e lá fomos. O moço tinha sido atropelado, o carro em questão fugiu. Ele estava deitado no chão, cheio de sangue por todo o lado. Tinha pelo menos um dedo da mão partido (provavelmente mais) e queixava-se de dores na perna. E tinha uma laceração enorme na cabeça, de onde jorrava sangue.
Ajoelhei-me no chão e tratei de pressionar a cabeça dele com uma das toalhas, enquanto limpava a cara com outra para ver se havia alguma lesão visível (à excepção de uma laceração no sobrolho, parecia estar tudo bem). Ao mesmo tempo, ia fazendo perguntas para perceber se estava consciente e orientado (estava). Ao lado dele, o irmão tremia de preocupação.
Passaram loooongos minutos até chegar a ambulância.
Quando a ambulância chegou, afastámo-nos. Uns minutos depois, o rapaz estava a caminho do hospital e nós de casa, pijama sujo de sangue e de sujidade da rua, sensação de impotência a dominar os nossos corações. Espero sinceramente que tudo tenha corrido bem. Espero sinceramente que o rapaz tenha ficado bom. E espero sinceramente ter feito a diferença.
Sonhei com isso durante a noite. E no dia seguinte, com uma dor de cabeça literal e uma dor no coração metafórica, fui fazer queques para me animar.
Porque às vezes toda a diferença que podemos fazer... Não é assim tanta quanto isso.
Queques de chocolate e feijão (sem glúten, sem açúcar) (receita adaptada do blog 'Ambitious Kitchen')
Ingredientes (para doze queques):
* Uma lata pequena de feijão preto, sem o líquido;
* Três ovos;
* Meia chávena de xarope de seiva de ácer;
* Duas colheres de sopa de óleo de coco derretido;
* Uma colher de chá de essência de baunilha;
* Meia chávena de cacau em pó;
* Uma colher de chá de bicarbonato de sódio;
* Uma pitada de sal;
* 100g de pepitas de chocolate (mais algumas para polvilhar os queques).
Confecção:
* Juntar o feijão preto, os ovos, o xarope de seiva de ácer, o óleo de coco e a essência de baunilha e triturar bem até ficar uma mistura homogénea;
* Acrescentar o cacau em pó, o bicarbonato de sódio, o sal e as pepitas de chocolate e envolver bem na mistura;
* Colocar a massa em forminhas para queques e cobrir com mais pepitas de chocolate;
* Levar ao forno pré-aquecido a 180º durante 25 minutos;
* Deixar arrefecer sobre uma grade.
Até amanhã! :D