'Não quero viver agarrada aos meus 1998.'
- Nossa Senhora da Proscrastinação
No 'Mil Trilhões Vezes Infinito', um blog de uma estudante de medicina que não me canso de ler, vi há uns dias um texto que me deixou a pensar. Dizia ela, a dada altura:
'Fez questão de orgulhosamente contar à jornalista, que por sua vez contou ao mundo (o planeta que é a meia dúzia de pessoas que de facto estava a prestar atenção ao Telejornal), que, em 1998, tinha sido considerado o melhor padeiro parisiense. (...)'
'Deixou-me triste, palavra. Não queria ser assim. E pensava nos meus curtos feitos. (...) Não quero orgulhar-me de um passado distante se o presente de orgulho tem pouco, e o futuro não passa de um punhado de incertezas. Não quero viver agarrada aos meus 1998.'
'No ano passado, ao folhear num avião uma revista vejo um artigo sobre o vencedor do prémio de 2014 para melhor baguette de Paris: um português. Que, surpresa das surpresas, já tinha ganho tal prémio vários anos antes. E agora?'
Fiquei a pensar. De facto, o que é que já fiz de verdadeiramente louvável com a minha vida? Em que é que mudei o meu mundo? Era uma óptima aluna no secundário, fui uma aluna mediana na faculdade e entrei numa especialidade que a maioria das pessoas considera uma deprimência pegada (e eu também, dependendo dos dias) e onde não vou ser (nem pretendo ser) famosa. Plantei uma árvore e escrevi um livro, mas desde então não fiz um grande esforço para me ultrapassar e para ser especial de alguma forma.
E sabem o que concluí?
Que não quero ser especial. Que quero ser normal e ter uma vida normal. Quero ter uma família normal, uma casa normal e um trabalho normal, onde faça consultas normais e tenha dias normais. E quero chegar à minha casa normal, abraçar o meu marido normal e saltar para a minha cozinha normal, onde farei receitinhas de bolos normais com a ajuda das mãozinhas dos meus filhos normais.
E se, nesse dia, o meu livro for a única coisa que terei para me gabar na televisão, então ficarei feliz. Porque sei que os meus sonhos se concretizaram.
Ser especial é francamente sobrevalorizado.
Bolo de mirtilo com crumble (receita adaptada do blog 'Smitten Kitchen')
Ingredientes:
* 240g de farinha;
* Duas colheres de chá de fermento;
* Uma pitada de sal de chá;
* 55g de manteiga sem sal amolecida;
* 150g de açúcar branco;
* Um ovo;
* Uma colher de chá de extracto de baunilha;
* 450g de mirtilos;
* 125ml de leite de coco;
Para o crumble:
* 40g de farinha;
* 100g de açúcar;
* Uma colher de chá de canela;
* 55g de manteiga sem sal bem fria;
Confecção:
* Juntar a farinha, o fermento e o sal e misturar bem;
* Numa tigela média bater a manteiga com o açúcar e juntar o ovo e a essência de baunilha;
* Acrescentar um terço da mistura de farinha seguido de metade da quantidade de leite;
* Repetir e terminar com o terço restante da mistura de farinha;
* Juntar os mirtilos e envolver;
* Para o crumble misturar a farinha, o açúcar, a canela e a manteiga cortada em pedaços e misturar bem com um garfo ou com os dedos até a mistura ficar semelhante a areia grossa;
* Colocar a massa numa forma de bolo inglês (é uma massa muito espessa, não se assustem), cobrir com o crumble e levar ao forno pré-aquecido a 190º durante quarenta minutos;
* Deixar arrefecer durante vinte minutos e desenformar.
Embrulhado em papel de alumínio, prontinho para ser transportado para o meu emprego normal :D
Tenham um fim-de-semana absolutamente normal! :D