Quando comento em circunstâncias sociais que vou viajar sozinha ou com amigos, a primeira pergunta que me fazem é 'e o Matias fica com quem?'. Isto é terrivelmente frequente, e no entanto continua a deixar-me abismada, ao ponto de provavelmente responder com um ar de 'duh' que o Matias fica com o pai.
Às vezes as pessoas fazem um ar de surpresa 'ai meu Deus, o pai existe como elemento cuidador?'. Outras vezes, gabam a minha sorte 'por ter um marido que ajuda tanto'. Também já aconteceu comentarem que 'nunca conseguiriam deixar os seus filhos' porque 'gostam tanto deles', talvez pensando para si que eu gosto menos do meu porque vou.
(Quando comento em circunstâncias sociais que o Pedro vai estar fora, ninguém parece questionar-se disto.)
Talvez isto aconteça porque as pessoas continuam a achar que 'mãe é mãe', mandando o pai para esse lugar tão injusto de acessório. Por alguma razão, toda a gente parece achar que eu sou mais capaz de cuidar do Matias porque sou menina. Ou parece ter pena do Pedro por eu lhe dar esse terrível fardo.
E eu explico-me. Explico-me, para tentar mostrar que há realidades diferentes. Que a realidade pode ser diferente. Que talvez a realidade devesse ser diferente.
Vou para Miami e o Matias fica com o Pedro porque ele pediu. Disse que achava que eu me ia divertir mais assim, que ia descansar mais e que o miúdo ia ficar mais confortável sem uma alteração tão abismal das suas rotinas. E eu disse que sim. E vou.
E eles ficam. Vivos, felizes, bem cuidados, bem alimentados, bem dormidos e lavadinhos.
Talvez com a roupa menos bem conjugada, mas pronto, não se pode pedir tudo.