E cá estamos nós novamente em confinamento, a tentar keep our shit together. Mantemo-nos a trabalhar, agora alternadamente, para permitir a um de nós ficar com os miúdos em casa. Tentamos equilibrar as consultas e as cirurgias (no caso do Pedro) com o estágio na Estefânia, as minhas consultas no São Francisco Xavier e a urgência. Tudo isto enquanto não estamos com a nossa família e amigos, tentamos manter o peso e os treinos três vezes por semana - agora online -, ando feita padeira a fazer pão várias vezes por semana, os miúdos continuam a crescer a uma velocidade vertiginosa (O Matias já escreve! A Gabriela já diz olá!) e tentamos dormir o suficiente.
Todos os dias deitamos os miúdos às 20h, sentamo-nos no sofá e sentimo-nos uns heróis. Uns heróis exaustos, mas uns heróis. Porque o heroísmo é também isto: é ficarmos em casa em teletrabalho, é ficarmos em casa em teletrabalho com filhos, é precisarmos de trabalhar fora de casa, é estarmos na linha da frente, é ligarmos aos nossos amigos, é mantermos a nossa sanidade mental dentro de limites minimamente aceitáveis, é fazermos a nossa parte, dia após dia, até a situação melhorar.
Independentemente disso, e correndo o risco de soar repetitiva, a verdade é que sinto-me muito agradecida. Temos trabalho, a nossa família está bem, o avô do Pedro foi vacinado esta semana (tem 95 anos!), nós vamos fazer a segunda dose na próxima semana, nenhum dos nossos amigos mais próximos ficou infectado (ainda), não houve um único caso nas escolas dos miúdos, tem sido um Inverno de poucas viroses cá em casa e a vida vai seguindo, com dias animados, dias desesperantes e dias assim-assim. Esta semana andei em modo a-vida-não-vale-a-pena, mas confesso que o encerramento das escolas deixou-me relativamente tranquila - não porque concordasse ou não porque não tinha genuinamente opinião formada sobre o assunto, mas porque entrei em modo 'é o que tem de ser', reorganizámos as nossas agendas e siga para bingo.
Ficar com os miúdos em casa é fácil para mim - aliás, é como prefiro estar. Nos últimos meses fiquei em casa alguns dias com a criançada doente e precisei de assistir a reuniões ou de fazer consultas pelo telefone e tudo se faz, os meus filhos são tendencialmente colaborantes e as pessoas são frequentemente bastante compreensivas.
E seguimos. Planeamos o dia dos namorados, o Carnaval, a Páscoa e a festa do Matias. Fazemos quizzes, vemos filmes da lista dos 250 melhores filmes do IMDb, comemos bombons no sofá, dormimos a fazer conchinha. Deixei de ler notícias, silenciei as notificações do WhatsApp (desta vez não posso sair dos grupos porque estou a trabalhar), fiz a milésima limpeza nas páginas do Instagram que sigo, fechei-me, fechei-nos. Até podermos voltar a abrir-nos para o mundo, somos só nós. E as festas.