9 de agosto de 2019

Pregnancy Diary #35

Há uns meses, fui aos correios buscar umas roupas que tinha encomendado online para a bebé e fui chamada por uma funcionária com um ar um bocadinho mmmmm sisudo. Inicialmente a conversa começou dar forma normal, muito 'preciso do seu cartão do cidadão', e a dada altura a menina diz:

'É Macieira? Olhe, eu sou Pereira!'

Fiquei momentaneamente desconcertada, mas respondi logo:

'E também ouvia muitos comentários na sua infância? É que eu com Macieira era um horror, chamavam-me maçã, gozavam com o nome...'

Isto deu origem a uma conversa de vinte minutos sobre os nomes, e quando saí dos correios sabia os nomes das filhas dela, das netas dela, que tinha sido casada duas vezes e por aí fora. Ainda aprendi uma coisa gira sobre a história angolana.

Isto sempre foi uma piada no meio do meu grupo de amigos: o que eles acham que é um dom que eu tenho para conhecer as histórias de vida das pessoas. E diga-se que até sou péssima a meter conversa e geralmente fico ali no meu cantinho a não aborrecer ninguém, mas quando apanho alguém com vontade de conversar não há quem me pare.

Entretanto esta Segunda o Pedro saiu do trabalho às 14h e fomos experimentar um restaurante novo (o Maria da Taberna). Achei que fazia pouco sentido ir de carro e ficarmos com os dois carros lá, por isso chamei um Uber. Na viagem aconteceu exactamente a mesma coisa, e dez minutos depois sabia a razão pela qual o primeiro casamento do senhor não correu bem, como estava a filha desse relacionamento, como conheceu a segunda companheira, porque o primeiro casamento desta companheira não tinha corrido bem, os nomes e idades dos filhos da companheira, como é que ele geriu a vinda de outro bebé com a filha dele do primeiro relacionamento, etc etc etc.

Na Quarta saí do yoga às 14h e encontrei logo a mulher de um antigo colega de trabalho do Pedro. Ficámos por ali a conversar sobre os nossos filhotes, e eis que apareceu a Teresa, uma leitora do blog com quem eu falava esporadicamente quase desde o início e que nunca tinha conhecido. E ali ficámos a conversar durante duas horas.

Hoje fui fazer a PTGO. Ia armada até aos dentes de coisas para fazer: levava o portátil, o telemóvel com a powerbank, um relatório pendente e a agenda para organizar. A técnica de análises comentou que agora recomendava a minha obstetra porque ela própria também era doula, e acabámos a passar duas horas a conversar. No fim sabia os nomes dos filhos dela, quando nasceram, como e onde foram os partos, quem eram os obstetras, o que correu bem, o que não correu bem, onde já tinha vivido, onde os filhos andavam na escola, quanto é que ela pagava, quanto é que a outra técnica pagava pela casa e onde vivia e de onde era originalmente e por aí fora. Foram duas horas inteirinhas de conversa enquanto eu esperava para ser picada, e passou tão rápido que sou capaz de jurar que foram só vinte minutos.

Há uma música do George Thorogood chamada 'You Talk Too Much' em que a dada altura ele diz:

'Well I laid out in the afternoon I start to nappin'
You walk into the room with them jaws a-flappin'
You keep that motormouth moving morning, noon and night
You keep on talking baby make my head turn white
You talk too much!'

O Pedro está sempre a dizer que eu sou assim, sempre com as minhas jaws a-flappin'. Mas faz-me sentir verdadeiramente feliz conversar com as pessoas, conhecer os seus percursos de vida e saber as suas experiências. Ainda bem que escolhi o trabalho certo para isso :D