'É Macieira? Olhe, eu sou Pereira!'
Fiquei momentaneamente desconcertada, mas respondi logo:
'E também ouvia muitos comentários na sua infância? É que eu com Macieira era um horror, chamavam-me maçã, gozavam com o nome...'
Isto deu origem a uma conversa de vinte minutos sobre os nomes, e quando saí dos correios sabia os nomes das filhas dela, das netas dela, que tinha sido casada duas vezes e por aí fora. Ainda aprendi uma coisa gira sobre a história angolana.
Isto sempre foi uma piada no meio do meu grupo de amigos: o que eles acham que é um dom que eu tenho para conhecer as histórias de vida das pessoas. E diga-se que até sou péssima a meter conversa e geralmente fico ali no meu cantinho a não aborrecer ninguém, mas quando apanho alguém com vontade de conversar não há quem me pare.
Entretanto esta Segunda o Pedro saiu do trabalho às 14h e fomos experimentar um restaurante novo (o Maria da Taberna). Achei que fazia pouco sentido ir de carro e ficarmos com os dois carros lá, por isso chamei um Uber. Na viagem aconteceu exactamente a mesma coisa, e dez minutos depois sabia a razão pela qual o primeiro casamento do senhor não correu bem, como estava a filha desse relacionamento, como conheceu a segunda companheira, porque o primeiro casamento desta companheira não tinha corrido bem, os nomes e idades dos filhos da companheira, como é que ele geriu a vinda de outro bebé com a filha dele do primeiro relacionamento, etc etc etc.
Na Quarta saí do yoga às 14h e encontrei logo a mulher de um antigo colega de trabalho do Pedro. Ficámos por ali a conversar sobre os nossos filhotes, e eis que apareceu a Teresa, uma leitora do blog com quem eu falava esporadicamente quase desde o início e que nunca tinha conhecido. E ali ficámos a conversar durante duas horas.
Hoje fui fazer a PTGO. Ia armada até aos dentes de coisas para fazer: levava o portátil, o telemóvel com a powerbank, um relatório pendente e a agenda para organizar. A técnica de análises comentou que agora recomendava a minha obstetra porque ela própria também era doula, e acabámos a passar duas horas a conversar. No fim sabia os nomes dos filhos dela, quando nasceram, como e onde foram os partos, quem eram os obstetras, o que correu bem, o que não correu bem, onde já tinha vivido, onde os filhos andavam na escola, quanto é que ela pagava, quanto é que a outra técnica pagava pela casa e onde vivia e de onde era originalmente e por aí fora. Foram duas horas inteirinhas de conversa enquanto eu esperava para ser picada, e passou tão rápido que sou capaz de jurar que foram só vinte minutos.
Há uma música do George Thorogood chamada 'You Talk Too Much' em que a dada altura ele diz:
'Well I laid out in the afternoon I start to nappin'
You walk into the room with them jaws a-flappin'
You keep that motormouth moving morning, noon and night
You keep on talking baby make my head turn white
You talk too much!'
You walk into the room with them jaws a-flappin'
You keep that motormouth moving morning, noon and night
You keep on talking baby make my head turn white
You talk too much!'
O Pedro está sempre a dizer que eu sou assim, sempre com as minhas jaws a-flappin'. Mas faz-me sentir verdadeiramente feliz conversar com as pessoas, conhecer os seus percursos de vida e saber as suas experiências. Ainda bem que escolhi o trabalho certo para isso :D