5 de julho de 2019

Pregnancy Diary #23

Realmente não há fome que não dê em fartura, e depois daquele mimimi todo, ontem e hoje não tenho feito rigorosamente nada a não ser dormir sestas no sofá, lavar roupa da miúda e ver episódios antigos da La Casa de Papel. Afinal, neste aspecto talvez a segunda gravidez não seja assim tão diferente da primeira, e vá dar para poder descansar e recuperar forças nos próximos meses.

Mas há muitas coisas em que esta segunda gravidez está a ser diferente.

Começou logo com o teste de gravidez. Na gravidez do Matias estava quase em negação. Tinha a menstruação atrasada, mas achei que era impossível estar grávida logo porque sabia que geralmente as pessoas demoravam meses a engravidar. Quando o teste ficou positivo ficámos os dois sem reacção, expectantes, sem saber bem o que pensar ou o que dizer. Ficámos contentes, claro, mas acho que também ficámos com medo. Passei a gravidez toda a sentir-me assoberbada com tudo o que havia para fazer, para comprar, para saber e para preparar, e sei que só me senti mãe no segundo em que ele nasceu. Aliás, nem sequer estava particularmente ansiosa que ele nascesse: queria aproveitar bem o tempo para estar o mais preparada possível (que inocente). E quando a enfermeira me disse 'vá, vamos a isto, a dilatação está feita, quer conhecer o seu filho?' o Pedro diz que o meu 'Sim!' soou mais a um 'Haaammm... Sim?'.

Desta vez foi diferente, embora também tenha começado da mesma forma: a negação. Tinha a menstruação atrasada, mas não queria fazer o teste e ver mais um negativo (não foram muitos, mas essa bodega pesa na alma). O Pedro quase me arrastou até à casa-de-banho. E quando o teste ficou positivo fizemos tudo: rimos, chorámos, abraçámo-nos, saltámos e analisámos o teste umas trinta vezes para termos a certeza que estávamos a ver bem. Não houve medo, só felicidade. Não houve incertezas, só amor. Já somos pais. Já sabemos o que é este amor incondicional que nos esmaga quando olhamos para os nossos miúdos. E já não me sinto nada assoberbada. Tudo se faz, tudo se consegue, e agora sei que não há preparação que chegue para o que aí vem. Por mim a miúda nascia já, porque eu quero viver o que sei que está a chegar.

A gravidez em si está a ser muito diferente. Em nove meses de gravidez do Matias, eu vomitei uma vez porque decidi juntar leite com chocolate e amêndoas da Páscoa. Desta vez já vomitei umas cinquenta vezes. Da primeira vez, tive ataques de choro a partir do segundo trimestre. Desta, tenho ataques de choro desde a primeira semana (o que me fez logo suspeitar que estava na presença de uma drama queen como a sua rica mãe). Da primeira vez desmaiava imenso. Desta, tenho falta de ar. Da primeira vez tinha imensa fome. Desta nem por isso, mas só me apetece comer coisas super específicas.

Da primeira vez adorava falar da minha gravidez. Respondia alegremente a todas as perguntas, nunca me importei (e, aliás, gostava) que me fizessem festinhas na barriga, estava claramente em modo 'cheguei'.

Desta vez irrita-me profundamente a conversa:

Pessoa: Então é para quando?
Eu: Novembro.
Pessoa: E já sabes o que é?
Eu: Menina.
Pessoa: Que bom, um casalinho.
Eu: Pois é.

A sério, se mais alguém me diz 'que bom, um casalinho' acho que vou desatar a gritar como uma histérica.

(Aproveito só para salientar que sei perfeitamente que as pessoas só estão a ser normais e que eu é que sou a desequilibrada neste momento ok? Vocês viram as sabrinas para bebé, acho que já perceberam que não ando boa da cabeça.)

Da primeira vez sabia de cor quantas semanas, dias e horas tinha e dizia coisas como 'estou de treze semanas e seis dias'. Agora não sei de quantas semanas estou (vá, acabo por recordar-me se pensar um bocado), vou mandando números aproximados e aposto em dizer 'vai nascer em Novembro' para evitar fazer muitas contas de cabeça.

Da primeira vez tirava fotografias com o tripé na mesma posição todas as semanas. Agora tiro fotografias com o telemóvel no espelho de vez em quando e mando pelo WhatsApp aos meus amigos dizendo coisas como 'estou cada vez mais bisonte, socorro!'.

Da primeira vez fiz um baby shower com uma lista super investida (do género 'quero quatro pacotes de fraldas Dodot Sensitive do tamanho 1'). Agora nem quero prendas no meu baby shower, porque já temos tudo e não temos espaço para mais nada (acho que vou escrever nos convites que só aceitamos prendas se forem notas).

Da primeira vez fiz duas sessões fotográficas da gravidez, a agarrar na barriga com os dedinhos em forma de coração. Desta não faço mesmo questão, até porque tudo o que me faça sair de casa tem de ser muito bem ponderado.

Da primeira vez fiz duas ecografias 4D. Duas. Agora descobri que já é a 5D, mas para mim é igual porque não vou fazer nenhuma.

Da primeira vez comprei soutiens de grávida e camisas de dormir de velhinha na Pré-Natal para usar no pós-parto. Agora comprei soutiens de renda e camisas de dormir de seda na Intimissimi, porque já que vou parecer um trambolho na mesma, pelo menos vou ter camisas de dormir sensualonas e macias.

Da primeira vez eu achava que a gravidez era especial. Agora eu sei que a gravidez não se compara em nada ao que chega depois.

E é por isso que eu mal posso esperar.