22 de junho de 2019

Pregnancy Diary #14

Há uma semana atrás estava na casa-de-banho e desatei a sangrar. Não foi uma cena pequena do tipo 'suja o papel', foi mesmo um daqueles cenários de filme de terror. Fiquei em pânico. Percebi que o sangue vinha do meu rabo. Fiquei menos em pânico, mas ainda bastante em pânico.

Não tinha dores, não tinha hemorróidas, nada. Mas tinha sangue, e imenso.

Fui à gastro, mas não tive grandes respostas. Sinceramente também não ia à procura delas. Eu queria parar de sangrar, não queria hipóteses de diagnóstico.

A colega viu-me, disse-me que havia um 'corte' lá dentro que podia ter sido provocado por uma semente (devia ser o Schwarzenegger das sementes), passou-me um tratamento para a colite ulcerosa e vou ser reavaliada esta semana. Entretanto parei de sangrar, por isso já estou mais tranquila.

Pelo meio, foi incrível o quanto isto me deixou triste. O Pedro já nem sabia o que dizer perante tanta choradeira: eu, que parti um braço na primeira gravidez e reagi cheia de optimismo, agora com sangue a sair do rabo agia como se estivesse a morrer.

Fiquei a pensar nisso: afinal, porque é que me sentia assim? Concluí que tenho medo do parto. Depois do meu primeiro parto fiquei (como presumo que fiquem a maioria das pessoas) a precisar de obras na região, e isto depois de ter mantido um fofo impecável durante toda a gravidez. Ora se já começávamos assim antes, o que iria acontecer depois do parto? Um conjunto de hipóteses tontinhas começou a ocorrer-me, e cheguei até a sonhar que morria no parto (foi uma noite muito interessante para o Pedro). No dia seguinte dei por mim a informar-me sobre a unidade de cuidados intensivos do local onde a minha obstetra faz partos, não fosse precisar de dar lá um saltinho. Que grande tontice.

Depois disso fiquei mais calma. Percebi que o segundo parto assusta-me mais do que o primeiro, não porque o primeiro tenha corrido mal (porque não correu de todo), mas porque agora tenho mais a perder. Percebi que há três anos atrás tinha confiança que tudo iria correr bem, e agora enquanto assistimos todos à morte lenta do nosso SNS já não acredito tanto em fadas. Percebi que passar os meus dias em consultas onde os miúdos têm sequelas neurológicas do parto, malformações variadas e patologias congénitas não ajuda.

Percebi que talvez tenhamos que ajustar os nossos planos aos meus novos medos. Vamos ver. Até lá, pelo menos por enquanto, continuo viva, cheia de saúde e com o rabo temporariamente em obras :)