Não é segredo para ninguém que não fiquei propriamente satisfeita quando descobri que ia ser mãe de uma menina. Eu sei que muitas pessoas gostam deste equilíbrio bonito de ter ‘o casalinho’, mas eu sempre me imaginei mãe de rapazes e sempre achei que não ia ser uma boa mãe de meninas porque sou super ‘arrapazada’ na minha forma de funcionar.
Quando descobri que a bebé era menina (ou quando confirmei, porque eu já sentia que sim) fiquei triste. Só conseguia pensar em mim própria adolescente, a escrever no diário que tinha em conjunto com as minhas amigas (e que levávamos para casa à vez) com aquelas canetas de brilho com cheirinhos de frutas que odiava a minha mãe porque ela não me deixava namorar com o grande amor da minha vida que tinha dezoito anos e fumava ganza.
E pensei que não queria passar por isso. Não queria ser odiada, discutir e lidar com namorados fumadores de ganza.
Até que na semana passada estava a conduzir e a Just Girls das Amarguinhas começou a tocar. E eu pensei que é engraçado o quanto algumas músicas são tão actuais, mesmo tendo sido escritas há vinte ou quarenta anos. E lembrei-me do quão divertida foi essa fase da minha adolescência. Ter o meu grupo de amigas, escrever parvoíces no nosso diário conjunto, fazer disparates controlados e confidências, crescer, autonomizar-me. Odiar a minha mãe pelo percurso, sim. Faz parte.
E quando a nossa miúda passar pelo mesmo, lá estaremos nós cá para sermos odiados.
Mas de preferência sem namorados fumadores de ganza.