Quando surge à conversa o tema e eu partilho que sou vegetariana há dois meses, as pessoas que me rodeiam perguntam sempre 'mas porquê?'. E confesso que nem eu sei bem a resposta.
Talvez tudo isto tenha começado quando fui mãe, não sei. Mas sei que há uns meses comecei a sentir-me diferente. Mais atenta, talvez. Mais culpada, talvez.
O Matias tem um livro com rimas sobre animais, e numa das páginas diz algo como 'sou o cavalo, sirvo para trabalhar, mas o que mais gosto é trotar e galopar'. E eu sempre me recusei a ler aquilo. Normalmente invento coisas parvas do género 'sou o cavalo, gosto de cenouras, mas o que mais gosto é trotar e galopar' (não rima mas ele não se importa). Em Nova Iorque recusei-me a andar de charrete, bem como em muitas outras situações depois dessa. Desde que engravidei deixei de conseguir fazer a alimentação paleo. No Dubai recusei-me a andar de camelo. Nas Maurícias recusei-me a nadar com os golfinhos ou a visitar um parque com leões domesticados. Quando formos para Svalbard não quero andar de trenó de cães (para grande tristeza do Pedro, que está entusiasmadíssimo com a ideia).
E eu não preciso da conversa do 'precisamos dos animais, é o trabalho deles, somos omnívoros, proteínas e tal, etc etc etc'. Até pode ser assim há milhares de anos, mas felizmente estamos a evoluir, e talvez isto faça parte da nossa evolução.
Curiosamente, eu gosto de carne. Comer carne não me faz confusão (ao contrário da exploração animal). Sei que os animais sofrem ao morrer, mas isso não me ocorre quando vejo um bifinho do lombo do Uruguai, por isso não posso inventar motivações para ser vegetariana que não existem.
Foi simplesmente um percurso natural. Quando comecei a fazer dieta comecei naturalmente a fazer refeições vegetarianas, e quando dei por mim era vegetariana há semanas. Fui indo com a maré. Em casa só como comida vegetariana. Nas férias comi maioritariamente comida vegetariana. Por outro lado, nos restaurantes é muito mais complicado porque nem sempre gosto das opções ou posso comê-las. Como estou a tentar evitar os hidratos de carbono às refeições, não posso propriamente comer legumes com legumes. Ontem no Jardim Zoológico a única opção que tinha no restaurante era comer salada de tomate com cebola, e sinceramente não me apetecia andar a queixar-me de fome pelos cantos (ou, pior, a ter vontade de comer um gelado).
Vai daí, comi frango assado com salada. Comi, não me fez confusão, mas também vivia bem sem isso e teria ficado igualmente satisfeita com um pratinho vegetariano consistente.
Sou uma vegetariana flexível, ou pelo menos é o que tento explicar aos meus amigos. E eles ficam a olhar para mim como se isto fosse mais uma das minhas pancadas temporárias.
Talvez seja, mas pelo menos ando a salvar umas vaquinhas pelo caminho. Independentemente das razões ou das motivações.