25 de maio de 2017

E o Pedro não vai?

Um dos meus textos preferidos aqui do blog é este. Fala sobre o facto das pessoas não mudarem, e de ser preciso aceitar (e até apreciar) essa inevitabilidade para termos uma relação feliz. E acho sinceramente que essa capacidade de aceitar o outro com todas as suas características boas e menos boas (ou más, até) é uma das razões pelas quais eu e o Pedro estamos aqui, quase dez anos depois, cada vez mais felizes e apaixonados.

O Pedro é um peixe morto. Eu sou uma histérica. Na grande maioria das vezes, o Pedro quer ficar a pastelar em casa. Eu quero perder-me no mundo.

Durante uns tempos tentámos mudar isto. O Pedro viajou comigo para destinos que não lhe interessavam, eu desisti de alguns projectos porque sabia que o Pedro não tinha curiosidade em conhecer determinados sítios. Até que percebemos que não estava a resultar. E abraçámos a inevitabilidade das coisas.



Hoje eu viajo com o Pedro. Mas também viajo com os meus amigos. Ou com a minha família.

Em 2015 fui a Roma com a minha mãe e a minha avó. Fui ao Rio de Janeiro e à Amazónia com o Pedro. Fiz uma road-trip em Itália com os meus pais e o meu irmão (seguida de uma road-trip no Douro com o Pedro). Fui a Nova Iorque com a Joana e o Bernardo. Em 2016 fui aos Açores com o Joana e o Bernardo (e o Matias). Fui a Veneza com o Pedro. Fui a Londres com os meus pais e o meu irmão.

Em 2017 já fui a Paris com a Joana e a Florença com a minha mãe. Regressei ontem de Santorini, onde fui com a minha mãe, a minha avó e o Matias. Em Junho vou à Finlândia com o Pedro (pelo menos o plano é esse, mas ainda não temos voos nem hotéis!). Em Agosto vou à Rússia com o Pedro. Em Setembro vou a Miami e às Bahamas com a Joana e o Bernardo.

E isto não nos faz a mínima confusão. A mim não me faz confusão ir, o Pedro agradece ficar. Somos mais felizes assim, mais honestos e mais verdadeiros com o que somos.

No entanto, sempre que as pessoas percebem que o Pedro não vem ficam preocupadas. Perguntam-me se o nosso casamento está bem. Dizem que é estranho continuar a viajar com os meus pais ou com os meus amigos estando casada. Acham que somos demasiado diferentes. Questionam o Pedro se não tem ciúmes por eu ir viajar com os meus amigos, perguntam-me a mim se não me faz confusão deixar cá o Pedro sozinho em casa.

Toda a gente acha este nosso entendimento estranho. Menos nós.

O Pedro sabia que Santorini era um projecto que eu tinha há imenso tempo. Eu perguntei-lhe se ele vinha comigo e ele disse que achava que era uma chatice viajar com o Matias, que não são realmente férias, que dá trabalho, que Santorini não era um destino que o atraísse e blá blá blá. E eu aceitei. A opinião dele não é menos válida por não ser minha, e lá porque não concordo com ela (estamos a falar da pessoa que disse que Nova Iorque não lhe parecia interessante porque foi criada no século XVII!) não quer dizer que tenha de desistir do meu sonho e ficar a culpar o Pedro por isso.

Vai daí, fui na mesma. A minha mãe e a minha avó vieram, mas teria ido sozinha com o Matias se fosse preciso. Porque as pessoas não mudam, e é preciso abraçar e festejar a inevitabilidade disso.

Às vezes digo ao Pedro que gostava de ter casado com um tipo nhonhó que me respondesse 'sim, querida!' a tudo. Mas a verdade é que eu já sabia no que me tinha inscrito e sou muito, muito feliz assim (e sejamos honestos, gostamos os dois da luta que dá sermos tão diferentes!).

Por isso agora digo que não, o Pedro não vai. E encolho os ombros. E sorrio. E sinto-me feliz por ser tão feliz ao lado de um gajo peixe morto.