Confesso que durante muito tempo olhei com uma certa sobranceria para aquelas mães que faziam verdadeiros espectáculos quando deixavam os filhos na creche pela primeira vez. Eu nunca seria assim, pensava. Eu era racional demais, pensava. Eu sabia a importância que tinha para o meu filho o facto da mãe estar segura da sua opção e não deixar transparecer qualquer dúvida, pensava. Eu não tinha outra alternativa a não ser deixá-lo na creche, por isso sentir-me triste não era minimamente produtivo, pensava.
O Mati vai entrar na creche em Janeiro. Eu recomeço o trabalho na Sexta-feira e o Pedro vai ficar em casa durante todo o mês de Dezembro. Vai daí, achámos que era bem pensado começar a levar o miúdo à creche de vez em quando, não só para ele conhecer as pessoas e o espaço, mas também para as educadoras começarem a perceber o funcionamento dele. Hoje foi o primeiro dia.
Estivemos na creche durante cerca de uma hora e meia. O Matias estava lindamente a rastejar, a brincar com os brinquedos, a saltar de colo em colo e a meter as mãos na cara dos outros miúdos (ele gosta de mexer em caras, enfim). Eu estava super ansiosa, a tentar jorrar toda a informação que me ocorria. O Matias dorme muito. O Matias come bem. O Matias gosta de sopa. O Matias só come papas caseiras. O Matias adormece sozinho, mas precisa de estar enroladinho no blankie. O Matias só chora quando tem sono. O Matias não gosta de estar sentado porque acha aborrecido, e prefere rastejar para todo o lado.
No caminho para casa, com o Matias aconchegadinho a mim na mochila, senti-me verdadeiramente triste. E depois de chegarmos e de o ter deitado na caminha, desatei a chorar como uma histérica.
E entreguei-me ao meu próprio espectáculo.
Não é deixá-lo lá que me assusta. Confio no local e nas pessoas que escolhemos. Confio nas opções que fizemos. Acredito que o meu filho se vai adaptar lindamente e que será bem tratado. Mas nunca será tão bem tratado como em casa, e eu nunca mais poderei fazer isso. Esta fase, a fase mais linda de toda a minha vida, terminou.
Outras chegarão, eu sei. E serão tão ou mais fantásticas do que a que passou, eu sei. E isto faz parte do crescimento dele, eu sei.
Mas hoje sou simplesmente uma mãe como as outras. Sem sobranceria. Com medos. Com dúvidas. Com vontade de ficar agarradinha ao meu filho para sempre.