Os meus pais sempre organizaram as nossas viagens em família. A logística era sempre a mesma, como uma dança que já é tão natural que nem sequer pensamos nos passos seguintes: os meus pais procuravam promoções de voos, marcavam um voo completamente aleatório (Porto-Frankfurt, ou Londres-Singapura, por exemplo) e depois desenhavam o resto da viagem. E foi assim que acabámos a fazer o Qatar, o Nepal e as Maldivas na mesma viagem. Ou que fomos parar à Papua.
Nos últimos anos, os meus pais começaram a recorrer a uma agência de viagens. Pensei que talvez estivessem fartos ou cansados. Pensei que talvez se sentissem info-excluídos. Confesso, pensei que os meus pais estavam a ficar... Velhos, pronto.
E entra o dia de ontem.
Daqui a um mês vamos de férias (ai meu Deus só escrever isto já me faz tremer de entusiasmo!). Reservámos o hotel há sensivelmente um mês, recebemos a reserva... E nunca mais pensámos no assunto.
Tínhamos escolhido um hotel de uma cadeia que conhecemos pela primeira vez durante a nossa lua-de-mel. Desde essa altura (há dois anos, portanto) que os tipos mandam mails todas as semanas com novidades. Ora é porque abriu um hotel aqui, ora é porque há uma promoção ali... Enfim, é mais um dos 4578916878 mails de spam que recebo diariamente. Nunca os abro, e vão directamente para o lixo.
Ontem estava muito descansada na cama a ler os mails, quando abri por engano um dos mails deles. Era do hotel que reservámos para as férias, a dizer que como não tinham obtido resposta aos mails anteriores a nossa reserva estava cancelada.
Fiquei estupefacta. Li melhor. Reli. E juntei o Tico e o Teco.
Tínhamos feito a reserva com o meu cartão de crédito. Como era uma promoção que implicava o pagamento imediato do valor total da reserva, eles naturalmente tentaram tirar o dinheiro. E não conseguiram, porque eu tenho um limite activado no cartão que impede precisamente que me tirem uma grande quantidade de dinheiro sem que eu dê autorização prévia (dá jeito quando queremos evitar que nos roubem, não dá jeito quando queremos evitar que nos cancelem reservas).
Fiquei em pânico. Tinha marcado aquele hotel específico, aquele quarto específico, com aquela vista específica. E se estivesse cheio? E se estivesse mais caro? E se já não tivesse aqueles quartos disponíveis? E agora? Não podia tentar fazer novamente a reserva, porque teria o mesmo problema: o meu cartão de crédito simplesmente não permite pagamentos superiores a um determinado valor.
Vai daí, contactei a agência de viagens dos meus pais. Expliquei a situação e pedi para me fazerem a reserva do quarto, que eu depois pagaria por transferência bancária. E eis que a menina da agência me arranja o mesmo quarto no mesmo hotel... Por menos trezentos euros.
A agência de viagens dos meus pais fez-nos poupar trezentos euros. Se calhar eles não estão assim tão velhos quanto isso. Se calhar não estão fartos, nem cansados, nem info-excluídos. Se calhar eles é que sabem.
Se calhar os meus pais nunca pararão de me ensinar coisas. Sobre ser mãe, sobre ser filha... Mas também sobre ser pessoa. Sobre ser viajante.
E quase vinte e oito anos depois, os meus pais continuam a ter razão.
Bolas.