21 de maio de 2016

O parto e um grande susto.

Era Quinta-feira, dia 12 de Maio. Os meus pais e a minha avó estavam cá na sua operação 'fazer miminhos à Joana porque ela partiu o braço' e fomos todos almoçar à Baía do Peixe. Comi um rodízio de marisco absolutamente delicioso. Estávamos já plenamente convencidos de que o Mati só viria para o mundo à força, na Terça-feira seguinte.

Depois de enchermos a barriguinha fui com a minha mãe e a minha avó ao centro comercial comprar guias de viagens. Ainda passámos pelo Arco do Cego para eu ver o meu irmão trajado pela primeira vez (a serenata dele foi nessa noite) e vim para casinha, onde tomei uma bela banhoca. Jantámos pizza indiana, pusemos música e dançámos, primeiro abraçadinhos e depois aos saltos. Continuávamos plenamente convencidos de que o Mati só viria para o mundo à força, na Terça-feira seguinte.



Antes de dormir decidi tomar outra banhoca e enquanto me secava tive uma contracção bastante dolorosa. Não era inédito ter contracções assim, mas esta foi mais forte do que o habitual. Eram 23.30h.

Às 00.30h tive outra contracção, e a partir daí comecei logo a ter contracções de dez em dez minutos. Doíam como o caraças. Às quatro da manhã passei a ter contracções de cinco em cinco minutos e decidi acordar o Pedro. Decidimos esperar mais um pouco e estivemos entretidos a ver sketchs antigos dos Gato Fedorento e a dar umas boas gargalhadas. Comemos (eu comi Chocapics com iogurte de ananás) e saímos para o Garcia de Orta, onde a minha amiga Joana estava de urgência.

Quando chegámos ao hospital, às 8.00h, ainda tinha apenas um dedo de dilatação. Tinha contracções regulares, mas ainda estava em fase latente do trabalho de parto. A Joana mandou-me ir passear para o Almada Fórum e regressar à tarde. Telefonei aos meus pais (que já estavam a chegar ao Porto!) e disse-lhes para regressarem, uma vez que o nosso Matias ia nascer nesse dia (coitadinha, fui mesmo inocente).

Sinceramente, esta foi a fase do trabalho de parto que mais me custou: andar de um lado para o outro no centro comercial, cheia de contracções, com vontade de me atirar para o chão com dores e a morrer de sono e de cansaço.

Quando regressei ao hospital, às 14.00h, tinha apenas dois dedos de dilatação. Continuava com contracções de cinco em cinco minutos. A Joana mandou-me ir para casa descansar um pouco (reza a lenda que eu parecia um zombie, e de facto confesso que nem me lembro bem disto). Tomei outro banho e aproveitei para dormir pequenas sestas entre contracções. Vimos alguns documentários sobre animaizinhos, os meus pais passaram por cá para dar um bocadinho de apoio moral (e trouxeram com eles uns morangos deliciosos) e jantámos.

À meia-noite dei novamente entrada no hospital, desta vez já com três dedos de dilatação. Fiz logo a sequencial (uma combinação de epidural com raquianestesia) e a partir daí tive o melhor trabalho de parto que poderia imaginar (obrigadinha senhor Fidel Pagés!). Fiquei com o Pedro na sala de dilatação e aproveitei para dormir umas boas sestinhas (ao contrário do Pedro, que ficou acordado toda a noite, coitadinho).

Por outro lado, com a administração da sequencial o meu trabalho de parto basicamente estagnou. Comecei a ter contracções de quinze em quinze ou vinte em vinte minutos, e não havia forma de as coisas se desenvolverem. Mesmo quando me rebentou a bolsa às cinco da manhã, continuámos na mesma. Afinal o Matias estava efectivamente a ser preguiçoso para nascer.

Às 9.00h passou a visita médica. Estava apenas com quatro dedos de dilatação, e uma das especialistas achou melhor introduzir oxitocina. Passei para a sala de parto e comecei a ser induzida por volta das 11.00h.

Dormi mais um bocadinho, fiz exercícios na bola e descansei bastante. Como ia levando reforços da sequencial, não tinha dores absolutamente nenhumas.

A dada altura acordei de uma das sestas com dores. Eram 13.00h. Chamei a enfermeira para levar novamente um reforço, mas quando ela me observou viu que já tinha a dilatação toda feita. Chamou a Joana (que tinha ido ela própria dormir, uma vez que tinha estado a trabalhar 24h seguidas no dia anterior). Comecei então a fazer força, primeiro sentada, depois deitada e agarrada a uma corda que estava presa no tecto, depois inclinada e agarrada às pernas, depois um bocadinho de lado - enfim, testámos um montão de posições (e mais teríamos testado se eu tivesse os dois braços operacionais). Não sentia propriamente dores, mas a pressão era imensa e a vontade de fazer força era incontrolável.

O tempo pareceu-me parado nesta altura. Ouvia a Joana e a enfermeira Cristina dizerem que estava quase e que faltava muito pouco, mas aquilo nunca mais acabava e confesso que comecei a desesperar e a dada altura só queria que o miúdo saísse dali. O Pedro foi absolutamente incrível durante todo o processo, e sinceramente não sei o que teria feito sem ele. Deu-me apoio, ajudou-me a fazer força e foi forte comigo. Foi o meu braço direito metafórico e o meu braço esquerdo literal.

Eventualmente apareceu uma especialista (a Drª Antónia) que achou que o Matias só ia conseguir nascer depois da episiotomia - sim, depois de ter passado mais de um mês a fazer massagens diárias no períneo, levei com a episiotomia na mesma. E efectivamente ela tinha razão, porque depois do corte fiz força uma vez e o Matias nasceu. Eram 13.49h do dia 14 de Maio, que posteriormente descobrimos ser mesmo o dia de S. Matias (digam lá que não é uma coincidência dos diabos?).

O Matias chorou imediatamente. Puseram-no logo em cima de mim e eu abracei-o com muita força. Cheirei-o e beijei-o muito. O meu bebé, finalmente. Não deixei a enfermeira limpá-lo e nem sequer queria deixar a Joana cortar o cordão umbilical. Chorei muito. Ri ainda mais. Agradeci a toda a gente. Disse que não tinha custado nada. Disse que estava pronta para outra.

O Pedro teve literalmente que me agarrar os braços para eu soltar o meu filho, que foi então limpo e observado. Teve um belo de um Apgar 10/10 e 3460g. Depois da expulsão da placenta e de ser suturada ficámos os três no namoro, amamentei e uma hora depois subimos para a enfermaria.

Mal cheguei levantei-me e fui tomar uma banhoca (que me soube pela vida!). Depois comecámos a receber as visitas: os meus pais, o meu irmão, a minha avó, a mãe do Pedro, o companheiro dela e a irmã. A Joana e o Bernardo também vieram visitar-me no dia seguinte.

Ficámos 48h internados e tivemos alta na Segunda-feira. Correu tudo lindamente. Adorei ter o meu parto no Garcia de Orta e recomendo vivamente: as equipas são fantásticas, todos os profissionais foram impecáveis, achei tudo muito limpinho e até a comida (que tinha lido que era horrível) me surpreendeu pela positiva (não é nada digno de uma estrela Michelin, mas come-se). Fiquei num quarto com mais duas pessoas, mas não me incomodou rigorosamente nada. Dediquei-me a namorar muito o meu bebé.

Desde então estamos os três a conhecer-nos melhor. Tivemos já um susto grande na Terça-feira que nos levou ao hospital e os pediatras chegaram a ponderar internar o Mati porque ele perdeu imenso peso (440g), estava desidratado e hipoglicémico e recusava-se a comer. Nesse dia descobrimos que eu tenho hipogaláctia (basicamente não produzo leite quase nenhum), e começámos a introduzir a fórmula. Continuo a estimular a mama com a bomba e a tentar que o Matias mame, mas confesso que a saga da amamentação se está a revelar bem mais desafiante do que aquilo que estava à espera.

Apesar deste susto enorme (quando me falaram em internar o meu filho achei que morria) o Matias está óptimo e já recuperou 320g. É um bebé calmíssimo, adora dormir, detesta mudar a fralda, gosta de tomar banhinho e acorda impreterivelmente de três em três horas para comer. E nós estamos super enamorados por esta nossa coisinha fofa :D