Também sou uma crente nas nossas escolas públicas: trabalho diariamente com elas, tive um bom percurso educacional numa, falo com professores, organizo apoios, estou presente em reuniões e, acima de tudo, posso comparar entre a abertura que as escolas públicas têm para ajudar miúdos com dificuldades (muita) com a que as escolas privadas têm (que é um misto de 'la la la não estamos a ver nada' com 'pontapé no traseiro daqui para fora').
Há excepções, claro, e como todas as generalizações também esta peca por ser injusta. Mas eu sabia que quando chegasse a altura de fazer as melhores opções para o meu filho iria decidir seguir a gravidez no serviço nacional de saúde, ter o parto num hospital público e colocá-lo numa escola pública.
E depois chega a hora da verdade.
Até há relativamente pouco tempo segui a minha gravidez no meu centro de saúde com a minha médica de família. Era também vista esporadicamente por um obstetra no hospital onde trabalho, e depois das complicações que tive passei a ser também seguida na consulta de cardiologia da grávida do meu hospital. Nessa altura, e por uma quantidade variada de razões, optei por mudar de obstetra. Falei com uma amiga interna de obstetrícia e marquei consulta para uma colega dela. Por uma questão de logística, optei por marcar consulta para o privado (o público onde a colega trabalha é mais longe). E, de repente, vi-me obrigada a considerar a hipótese de optar por um parto no privado.
Vamos aos factos: o dito hospital privado é tão bom como qualquer hospital público, tem profissionais excelentes, tem uma óptima unidade de neonatologia e condições físicas incomparavelmente melhores. Eu tenho seguro de saúde (os meus pais fizeram-no quando vim viver para Lisboa) e o bebé também já lá foi englobado, por isso estamos a falar de um custo monetário mais simpático (embora, obviamente, menos simpático do que zero euros).
Eventualmente percebi que a única coisa que me impedia de ter o parto no hospital privado... Eram os meus princípios. Não era o dinheiro, não eram as condições e não era pensar no que seria melhor para o meu bebé (até porque acredito que seria igual). Era doer-me na alma ir contra algo em que acredito.
O mesmo se passou em relação à escola. Quando nos deparámos com a opção de inscrever o nosso bebé numa creche com acordo com a segurança social (IPSS) ou inscrevê-lo numa creche privada, o facto de ser privada não pesou rigorosamente nada na nossa escolha. Decidimos por aquela que mais gostámos, com que nos identificámos mais e onde pensámos sentir-nos mais seguros em deixar a nossa coisinha boa - o que, por coincidência, acabou por ser a creche privada.
E, de repente, fiquei a pensar nisso também. O ensino público é óptimo e abrangente? Sem dúvida. Mas será que quero o meu filho no meio de alguns dos gandulos com quem partilhei a escolaridade? Pois.
Mais uma vez a generalização peca por ser injusta, eu sei. Há óptimas escolas públicas (conheço algumas), tal como há péssimas escolas privadas (também conheço algumas). E creio que, quando o momento chegar, isso será o que pesará na nossa decisão: não o facto de ser pública ou privada, mas sim o facto de poder dar à nossa coisinha fofa o melhor acompanhamento a todos os níveis.
Porque essa é a parte engraçada dos nossos princípios: mudam quando somos pais.
(Por outro lado a pediatra vai seguir o meu ursinho no público, por isso nem tudo está perdido.)