Oh simple thing, where have you gone?
I'm getting old and I need someone to rely on.
So tell me, when you're gonna let me in?
I'm getting tired and I need somewhere to begin.
And if you have a minute, why don't we go
Talk about it somewhere only we know?
This could be the end of everything,
So why don't we go somewhere only we know?
Keane
Os meus avós conheceram-se com dezoito anos. Na altura a minha avó passou pelo meu avô com uma trouxa de roupa para lavar sobre a cabeça e ele decidiu meter-se com ela gritando bem alto 'Ó preta!'.
(A minha avó sempre foi incrivelmente morena, tal como a minha mãe. Infelizmente eu saí esta lula, mas pronto também não podemos ter tudo na vida.)
A minha avó ficou muito zangada e atirou uma chinela à cabeça do meu avô. E foi amor à primeira vista.
No tempo dos meus avós o amor era muito simples. As pessoas conheciam-se, apaixonavam-se, casavam sem grandes aparatos (ou, no caso dos meus avós, sem aparatos de espécie alguma) e concentravam-se em ser os melhores parceiros que conseguissem. Os problemas eram resolvidos com conversas francas, e apesar de uma ou outra divergência as pessoas tinham um sentido de companheirismo completamente diferente daquele a que assistimos hoje em dia.
Os meus avós passaram por muito na vida. Lutaram juntos contra a morte de um filho, a impossibilidade de ter mais filhos depois da minha mãe, o acidente que impediu o meu avô de voltar a trabalhar e a doença que invariavelmente fez com que ele tivesse uma morte prematura. E nunca deixaram de se amar, de se apoiar e de se proteger um ao outro com unhas e dentes.
A minha avó ficou viúva com 59 anos, mas nunca quis ter outra pessoa ao lado dela e fica até aborrecida quando se fala no assunto. Porque o amor na altura dela era muito simples: as pessoas conheciam-se, apaixonavam-se, casavam e era para sempre.
Na altura dos meus avós também a comida era muito simples: bastava um refogado com tomate e tudo se fazia. E eu cresci a comer essas comidinhas saborosas e descomplicadas, de tal forma que ainda hoje me fazem regressar à infância.
Este é um simples frango guisado, como provavelmente já há às dezenas por aí. Não é gourmet, não tem ciência, não tem passos difíceis e não enche o olho. É apenas um prato simples, como o amor de verdade.
Porque as melhores coisas da vida são sempre as mais simples. E porque tenho tantas, tantas saudades dos pratos simples do meu avô, sempre com refogados de tomate (menos do bacalhau à espanhola, esse era um prato horrível!).
Frango guisado
Ingredientes (para duas pessoas):
* Uma cebola picada;
* Dois dentes de alho picados;
* Um fio de azeite;
* 250g de peito de frango cortado em cubinhos;
* Uma lata de tomate pelado;
* Legumes congelados a gosto (usei ervilhas e feijão verde);
* Massa farfalle;
* Uma colher de chá de pimentão-doce;
* Uma colher de chá de paprika;
* Uma folha de louro;
* Uma pitada de sal.
Confecção:
* Refogar a cebola picada e o alho picado num fio de azeite e juntar os cubinhos de frango para refogar;
* Cobrir com a lata de tomate pelado;
* Acrescentar os legumes e a massa e mexer bem (se necessário acrescentar água para cobrir a massa);
* Temperar com o pimentão-doce, a paprika, o louro e o sal.
Até amanhã! :)