18 de março de 2021

Festa da Anastasia #3

Podia escrever um tratado sobre isto de ter dois filhos tão diferentes e amá-los de formas tão diferentes. 

Eu amo o Matias, mas acima de tudo gosto dele. Gosto da autonomia dele, da persistência dele, da incrível resiliência dele. Gosto do optimismo dele, da sede por experiências novas dele, da criatividade dele. Gosto de olhar para ele e ver o meu entusiasmo misturado com a ânsia de conhecimento do Pedro, a minha inocência misturada com o sentido de humor do Pedro. Gosto da originalidade dele. O Matias não quer ir à Disneyland, quer ir ao Hermitage em São Petersburgo. O Matias não quer uma festa de aniversário da Patrulha Pata, quer uma festa dos DuckTales de 1987. O Matias aprendeu como surgem os bebés a ver o 'Era Uma Vez... A Vida' e escava na terra com os amigos na escola à procura de 'fósseis de dinossauros ou pessoas mortas', mas acredita vivamente no Pai Natal e deixa-lhe cartas no correio. Gosta de escolher a roupa e vestir-se, mas depois leva galochas para as aulas de ginástica e camisolas de manga curta no Inverno. É impaciente com despedidas. Gosta de castanhas assadas mas detesta castanhas no assado. Às vezes levanta-se de madrugada e vem ler livros para o sofá. Não está mal, antigamente assaltava o frigorífico. 

Eu amo a Gabriela e estou a começar a gostar dela. Estou a conhecê-la. Gosto da necessidade dos outros dela, da serenidade dela, da incrível simpatia dela. Gosto do olhar de adoração que ela nos dedica e do sorriso genuinamente feliz que povoa sempre a existência dela. Acho graça à ambivalência que ela sente em relação ao irmão e da cautela que ela tem a explorar a relação entre eles. Gosto do espaço que ela lhe dá se olharmos de forma superficial, só para depois ir em modo ninja roubar-lhe os brinquedos e esconder-se com um ar muito satisfeito. Gosto do jeito calmo dela, como se a vida fosse uma canção lenta, a minha Gabriela da canção. A Gabriela gosta de cães e delira com pombos, a Gabriela adora dizer 'olá', a Gabriela gosta de ter tudo arrumadinho. A Gabriela é do outro como eu e dela própria como o Pedro. É dramática e impaciente como eu, mas pacata e segura como o Pedro. 

São tão diferentes, mas tão nossos. Tão amados. Tão felizes. 

A Gabriela tinha começado a andar há umas semanas :D




O Matias a abrir as prendas de Natal dos titis (já não estávamos juntos há um mês quando foi a minha festa e ela ainda não tínhamos trocado presentes)