12 de setembro de 2020

Operação pós-parto #2

Estava grávida da Gabriela quando recebi um comentário que dizia algo do género 'quero ter filhos, mas depois olho para as tuas fotos e vejo como ficas gorda e perco a vontade'.

Fiquei triste, mas não pela razão que provavelmente estarão imaginar. O que realmente me entristeceu foi pensar que na melhor das hipóteses aquela pessoa achou que chamar-me gorda era o pior insulto que me podia dirigir... E na pior das hipóteses, acha realmente que ficar gorda temporariamente a demove de ter filhos.



Os comentários foleiros aqui no blog nunca me irritaram, porque as pessoas tendem a ser muito pouco imaginativas. Chamarem-me gorda quando estou efectivamente gorda não é um insulto, é um facto, é como dizerem que tenho cabelo escuro ou que sou baixinha. Dizerem que os meus filhos são feios não me afecta, porque eu acho-os lindos e estou a borrifar-me para o que acham os outros. Sempre achei que tinha haters pouco refinados, que nunca me chamaram estrábica (isso era capaz de me fazer chorar um bocadinho) ou disseram que a minha histeria e a peixe-mortice do Pedro não iam combinar para sempre (este sim um medo profundo que tenho). Mas enfim, estou a dispersar.

Ficar gorda nunca me angustiou, provavelmente porque já tive uma variedade enorme de pesos e sei como me senti com todos eles. Nos últimos dez anos já tive 42 quilos (quando fiquei doente) e já tive 95 (no fim da gravidez da Gabriela), e tudo passa, tudo muda, tudo fica bem eventualmente, a vida tende sempre na direcção do equilíbrio se estivermos disponíveis para isso.

No fim da gravidez do Matias tinha uns 80 quilos, perdi logo 10 e um ano depois tinha exactamente o mesmo peso. Foi só quando ele tinha um ano e uns meses que consegui estar disponível para fazer dieta, para investir nessa parte da minha vida, para me concentrar mais no meu corpo. Perdi 12 quilos em três meses, estabilizei nos 58 e assim fiquei durante dois anos, até à fase do exame de saída de especialidade do Pedro.

Foi uma fase complicada cá em casa. O Pedro em casa a estudar horas e horas, eu a trabalhar e mais directamente responsável pelas logísticas da casa e do Matias, a pouca vontade de cozinhar e o aparecimento do UberEats fizeram-nos ganhar uns 15 quilos, e em cima disso engravidei. O Pedro fez o exame em Março, eu engravidei em Fevereiro, e quando a Gabriela nasceu estava uma bola. Uma bola extremamente feliz, mas uma bola na mesma.

A Gabriela tem nove meses agora, e tenho exactamente o mesmo peso com que engravidei. Nos últimos nove meses perdi 20 quilos. Apesar disso, a roupa que vestia antes da gravidez fica-me larga (especialmente as calças), porque treino há quatro meses e noto que o meu corpo está diferente. Ainda há obviamente um caminho a percorrer para perder os tais 15 quilos que já tinha a mais na altura, mas a vida é assim: tudo passa, tudo muda, tudo fica bem eventualmente, a vida tende sempre na direcção do equilíbrio se estivermos disponíveis para isso.

Parece paradoxal eu estar agora preparada para isso, no meio da loucura que é a minha vida. Confesso que também é um mistério para mim, que normalmente até tenho tendência para me desorganizar do ponto de vista alimentar nestas fases mais ansiogénicas. Mas estou aqui, a tentar, super motivada, voltar ao meu ponto de partida. E quando lá chegar, o peso a mais foi embora mas os filhos estão cá. Porque há coisas permanentes na nossa vida, e depois há as temporárias, as passageiras, as que vão. Até à próxima gravidez, pelo menos :D