6 de setembro de 2019

Pregnancy Diary #41

Hoje foi dia de consulta de obstetrícia, e aproveitámos para discutir o meu plano de parto.

Durante a gravidez do Matias não fiz um plano de parto 'oficial' porque confesso que achava um bocado uma tontice - afinal, um parto é um parto, já tinha visto dezenas deles, não achava que fosse nada de transcendente ou metafísico e não tinha pretensões de ter um parto poético ou romântico.

Continuo a achar que um parto é um parto. Mas na verdade, e pensando nos partos a que já assisti, é claramente diferente parir ao som de 'esteja quieta, que bardajona' (#truestory) ou ser a mãe a tirar a bebé de dentro de si, tudo muito lindo e tal. Na consulta passada a Mariana disse que gostava que eu fizesse um plano de parto para discutirmos nesta consulta, e por isso vim para casa pensar no assunto, escrevi alguns pontos que para mim são importantes e hoje falámos deles.

Acho que continua a existir muita desinformação em relação aos partos e que claramente as pessoas acabam por focar-se nas questões erradas. A malta insurge-se imenso contra as episiotomias, mas depois vai induzir partos às 37 semanas porque o obstetra está de banco naquele dia, ou quer poder deambular e comer e tomar banho mas depois nem sabe bem porque quer isso, ou qual é a importância de deixar o cordão pulsar, ou porque é que se dá vitamina K, ou que já não se faz nitrato de prata há décadas (e no entanto continua a aparecer em modelos de planos de parto por alguma razão).



Por outro lado, também é claro que estas questões são óbvias para mim porque sou médica. Mesmo que não fosse, e porque obviamente há imensas coisas que eu não sei, arranjei uma obstetra do caraças que explica tudo direitinho e funciona à base da decisão informada. Não sei genuinamente como é que alguém que não seja da área consegue fazer um plano de parto informado se não tiver um obstetra disponível para esclarecer, e talvez seja por isso que vejo por aí tantos planos de parto fotocopiados uns dos outros.

Vai daí, claramente o meu plano de parto é muito simples. Continuo a achar que um parto é um parto. Mas há coisas que gostava que acontecessem no meu parto:

* Gostava de ter o Pedro sempre comigo, mesmo em situações de parto distócico (ventosas ou fórceps ou cesariana) e durante a administração da epidural (no parto do Matias o Pedro não pôde estar presente na parte da epidural e nunca percebi bem porquê). Segundo a Mariana, no local onde terei o meu parto isto é permitido (e não é pelo Pedro ser médico).
* Gostava que a monitorização da bebé fosse feita em permanência. Todo o respeito pela malta que quer deambular e tal, mas eu cá quero ter o CTG sempre colado na minha barriga just in case.
* Gostava de ter liberdade para escolher a posição em que me sinto mais confortável, sendo que no Matias a posição em que me sentia mais confortável era mesmo deitada, a posição em que ninguém quer parir.
* Gostava de ser eu a tirar a bebé após a saída da cabeça (é basicamente a única cena romântica que quero fazer).
* Gostava de permanecer algum tempo em contacto pele com pele antes da bebé ser pesada ou observada pelo/a pediatra, desde que não existam preocupações médicas. Aqui eu e a Joana (que é pediatra) chocamos imenso, mas continuo a achar que quando o bebé está bem (respira, tem uma cor boa, tem boa vitalidade) não há propriamente urgência em pesá-lo e ver se tem os dedos todos e vestir-lhe roupinhas frufrus. No parto do Matias tiveram literalmente de mo arrancar dos braços para o pesar, e para quê?
* Gostava que o corte do cordão umbilical fosse feito pela equipa na altura que acharem mais correcta. Não percebo nada disto nem tenho pretensões de saber, por isso confio na decisão deles.
* Gostava que fosse pedido o nosso consentimento para administração de fármacos, leite artificial, chupeta ou biberão. Mas isso sou eu, que não gosto de chupetas, e que acho que a decisão de fazer leite artificial deve ser nossa e não da equipa de enfermagem.
* Gostava de ter acesso à minha consultora de lactação durante o período do internamento. Basicamente, já que é para investir na amamentação, desta vez vou munida de treinadoras. Já tenho uma consulta pré-parto marcada e tudo, depois falo do assunto.

E pronto, fim do meu plano de parto. Acho que nem fui muito específica, e obviamente que há coisas que podem nem sequer acontecer (se gramar com uma cesariana não vou ser claramente eu a tirar a miúda, por exemplo), mas foi muito giro poder reflectir um bocadinho sobre o meu parto e sobre o que eu gostaria que acontecesse :)