11 de abril de 2019

Pregnancy Diary #1

Sempre achei que ia demorar imenso a engravidar. Sempre achei que toda a gente demorava imenso a engravidar. Quando pensámos em engravidar pela primeira vez tinha amigas a tentar há meses (e algumas até há anos!), por isso achei muito pouco provável que fosse eu, a ansiosa-obsessiva-histérica, que ia engravidar depressa.

Fiz o meu primeiro teste de gravidez por descargo de consciência, e quando deu positivo ficámos a olhar para ele em choque. O resto é história, e o resultado desta aventura foi o nosso Matias malandrias.

Ainda estava a ser suturada quando proferi as palavras 'passava por outro parto já a seguir' e, de facto, depois de ter o Matias a minha vontade de ser mais mãe aumentou exponencialmente. Não é propriamente segredo que sempre quis ter uma família grande ('não menos de três, não mais do que cinco'), mas inicialmente quando falámos sobre o assunto decidimos esperar até eu terminar a especialidade (ou seja, lá pelos cinco anos do Matias) para termos o nosso segundo filho.



Problema número 1: Não quero ter filhos até aos 40 anos. Na verdade, por causa da minha insuficiência mitral, a gravidez do Mati foi péssima, por isso não queria nada andar por aí a desovar depois dos 35 anos (até porque há um aumento do risco blá blá blá pancadas médicas). Ou seja, acabar a especialidade antes implicaria ter um segundo filho aos 33 anos, o que já é ali um bocadinho para o justo. Ora se nós sabemos que queremos ter pelo menos dois filhos (e idealmente mais), hipotecar assim a possibilidade de termos três pareceu-nos meio tonto - quer dizer, se tivéssemos outro filho aos 30 podíamos perfeitamente decidir não ter mais, mas se depois quiséssemos ter mais um ou dois também haveria tempo para isso, enquanto ter o segundo aos 33 já nos deixaria um bocadinho apertados de tempo para a eventualidade de querermos ter outro. Ah, o romantismo do planeamento familiar.

Problema número 2: O Matias está a passar uma fase mega fofa. A sério, apetece-me comê-lo todos os dias. Eu sempre o achei uma delícia, mas com o tempo confesso que comecei a ter uma dificuldade imensa em controlar as minhas hormonas. O Pedro servia de elemento apaziguador nesta equação, mas também ele começou a ter dificuldade em conter-se.

Fofura grande da mãezinha

Problema número 3: Não sei como é convosco, mas nós estamos constantemente esgotados, e pensar que isto vai melhorar com o tempo só nos desmotivava mais - ou seja, quando o Matias for um miúdo mais autónomo vou ter menos vontade de voltar tudo para trás e ter outra vez um bebé super dependente. Assim já temos andamento disto :D

Vai daí, reformulámos os nossos planos iniciais e decidimos ter outro bebé. Começámos este projecto cheios de confiança, e como agora achávamos que éramos super férteis pensámos que íamos repetir a proeza do Matias.

Não repetimos. Não demorou assim tanto tempo, mas demorou o suficiente para eu já andar a chafurdar em auto-comiseração e a convencer-me de que iria demorar imenso.

Aquele foi o primeiro mês em que fiz o teste de gravidez por descargo de consciência, e quando deu positivo fiquei a olhar para ele em choque. Chamei o Pedro, à espera que ele me dissesse que era negativo e que estava a imaginar coisas, e nunca irei esquecer a cara de felicidade dele.

Para nós esta vez foi diferente. Quando engravidámos do Matias ficámos obviamente felizes, mas agora nós sabemos. Nós sabemos o que é sermos pais. Nós sabemos o que vem aí. Nós sabemos o amor que vamos sentir durante o resto das nossas vidas. E se com o Matias o positivo trouxe alguns receios, desta vez o positivo trouxe muitas certeza e muita, muita felicidade. 

Assim começou a escrever-se a história do nosso bebecão número dois, que rapidamente ganhou o cognome de 'a feijoca' (eu sei, são nomes péssimos #sorrynotsorry).

As semanas seguintes foram péssimas, e tive um montão de sintomas: dores nas mamas (muitas), cólicas, fiquei logo com barriga de grávida por isso custava-me imenso vestir calças normais (principalmente no final do dia), andava super irritada, chorava por tudo e por nada, sentia-me super cansada, desatei a vomitar, estava sempre enjoada e/ou com fome, tinha pesadelos horríveis, só queria comer iogurtes, fiquei com uma azia descomunal, desmaiava, comecei a acordar às 6.30h da manhã todos os dias para vomitar independentemente da hora a que me deitava, tive de ficar logo medicada com um beta-bloqueante porque a minha frequência cardíaca disparou... A sério, estado de graça my ass. A par disto fiquei burra e esquecida que nem um penedo, e inicialmente fiquei muito assustada - afinal, senti todos estes sintomas durante a gravidez do Matias, mas numa fase bastante posterior (só fiquei beta-bloqueada lá pelas dezasseis semanas, por exemplo).

Assim sendo, comecei logo a achar que vem aí miúda: afinal, o Matias não me tinha dado metade destas chatices, e filha minha ia obrigatoriamente ser diva como a sua mamã.

As primeiras semanas passaram, e às sete semanas aconteceu aquilo que as grávidas mais temem: comecei a sangrar. Tinha uma ecografia marcada para três dias depois e achei que não valia a pena ir à urgência (um misto de 'detesto urgências' com 'acho que é uma cena do colo' com 'se for alguma coisa má ninguém vai fazer nada'). Foram três dias muuuuito difíceis, e quando a Mariana (a minha obstetra) pôs a sonda e eu vi os batimentos senti um alívio indescritível. Mas os dias seguintes continuaram a ser marcados por inúmeras preocupações: tinha um descolamento da placenta (daí as hemorragias) e continuava a sangrar.

Nesta fase já toda a gente à minha volta sabia que eu estava grávida, da família aos amigos e colegas de trabalho. Alguns souberam no dia em que fiz o teste. Isto aconteceu maioritariamente por três razões: porque eu não consigo fechar a matraca, porque tive milhões de sintomas e porque efectivamente sabia que se alguma coisa corresse mal também ia contar a toda a gente (porque lá está, não consigo fechar a matraca). Percebo quem não queira partilhar este tipo de assuntos, mas eu não sou assim, e a única razão pela qual não partilhei nada no blog mais cedo foi porque não queria que algumas pessoas soubessem da gravidez por aqui e não por mim.

Dito isto, partilhar com toda a gente à minha volta que estava com uma ameaça de aborto foi muito bom. Eu gosto de falar sobre as coisas. Tranquiliza-me partilhar as minhas emoções com os outros. E embora saiba que não há nada que ninguém possa fazer ou dizer para ajudar, a verdade é que toda a gente tem sempre uma palavra de carinho, uma história sobre aquela amiga que também teve um descolamento e em que tudo terminou bem ou um conselho (normalmente relacionado com ir para casa fazer repouso). Partilhar isto com amigos médicos também é arriscado, e ouvi coisas muito difíceis (algumas delas já inclusivamente ditas no passado por mim, quando a situação envolvia feijocas alheias). Mas a vida é mesmo isto. Há momentos muito bons, há momentos muito maus, há momentos assim-assim. No fim, é como diz a música:

Não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu,
É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu.
É sobre ser abrigo e também ter morada em outros corações,
E assim ter amigos contigo em todas as situações.

(Sim, choro muito a ouvir essa música #thankshormonas)

Entretanto a hemorragia passou e nós ficámos mais tranquilos. Continuo cheia de sintomas, mas já me sinto melhor e já estou ligeiramente menos irritada (a não ser que alguém diga à minha frente coisas como 'gravidez não é doença' ou 'a gravidez é um estado de graça' ou 'a tua barriga já está enorme'). Continuo a trabalhar com muita calma, já fiz o teste da sexagem fetal (por isso havemos de ter novidades sobre isso em breve) e andamos a aproveitar em grande os nossos momentos em família. O Matias está tão fofo que às vezes dou por mim a chorar de felicidade por esta família linda que estamos a construir. Enfim, all is well.