28 de março de 2017

Somos sempre más mães para alguém.

Quando viajo com o miúdo, sou irresponsável por levá-lo e não ponho o meu filho à frente na minha lista de prioridades.

Quando viajo sem o miúdo, sou má mãe por deixá-lo e não ponho o meu filho à frente na minha lista de prioridades.

Quando viajo só com o Pedro e sem o miúdo, somos maus pais por deixá-lo e não pomos o miúdo à frente na nossa lista de prioridades.

Quando viajo com os meus amigos, estou a descurar o meu casamento. Se viajasse sem os meus amigos, estava a isolar-me deles desde que fui mãe.

Se deixasse de viajar, estava a anular-me como mulher por causa do meu filho.

Quando deixo o Matias com os meus pais, sou horrível. Quando deixo o Matias com o Pedro, sou horrível.

E gostava muito de vos dizer que estas vozes vêm de fora. Gostava de dizer que isto são opiniões idiotas das pessoas que me rodeiam, e que eu posso simplesmente encolher os ombros e ignorá-las. Gostava de vos dizer que são comentários anónimos de haters. Mas não são. São dúvidas dentro da minha cabeça. Eu sou a minha própria hater.



A culpa é sem sombra de dúvida uma thing na maternidade, e confesso que não estava assim muito preparada para isto. Dou graças aos santinhos por fazer o que faço e saber lidar com estes sentimentos ambivalentes, porque senão acredito que seria muito difícil perceber o que deveria fazer.

Quando o Matias tinha três meses fomos para o Alentejo. Foi bom. Foi cansativo. Soube bem.

Quando o Matias tinha quatro meses fui para os Açores com ele e os meus amigos. Foi muito bom. Foi também muito cansativo. Soube muito bem.

Quando o Matias tinha cinco meses fui para Veneza com o Pedro. Foi muito bom. Não foi nada cansativo. Soube muito bem.

Quando o Matias tinha seis meses fui para Londres com a minha família. Foi bom. Não foi particularmente cansativo. Soube bem.

Mas de todas as vezes senti culpa. De todas as vezes senti que não havia resposta certa. De todas as vezes precisei de fazer as pazes com as minhas opções.

Há duas semanas fui à Disney com uma amiga e a culpa voltou. Não devia ter deixado o meu filho. Mas também não devia levar o meu filho. E também não devia deixar de ir por causa do meu filho.

Daqui a três dias vou para Florença com a minha mãe (vou em trabalho, mas conta na mesma) e a culpa voltou. Não devia deixar o meu filho. Mas também não devia levar o meu filho. E também não devia deixar de ir por causa do meu filho.

Daqui a dois meses vamos para Santorini em família e a culpa voltará. Porque talvez devesse deixar o meu filho. Mas também não queria deixar o meu filho. E a viagem não me fazia sentido sem ele (porra, é a concretização de um happy place e já vou ter de abdicar de levar o Clint Eastwood!).

Eu já estava preparada para o facto de ser sempre má mãe para alguém... Mas ninguém me tinha avisado que às vezes esse alguém sou eu própria.

Por isso resta-me aceitar. Resta-me encolher os ombros e ignorar as minhas vozes. As minhas dúvidas. As minhas inseguranças. Resta-me olhar para a cara do meu patuscão, sempre sorridente, sempre feliz, sempre amado.

Resta-me ouvir músicas gregas e catapultar-me para o meu happy place. E fazer as pazes com as minhas opções.