23 de junho de 2016

Ser mãe não é uma grande chatice.

Confesso que estou cansada de só ler e ouvir coisas desagradáveis sobre a maternidade. De facto, parece que assistimos hoje em dia a uma inversão do paradigma: se antigamente ser mãe era espectacular, hoje em dia sê-lo é desagradável, dá imenso trabalho e é uma grande chatice. E por todo o lado surgiu de repente o 'mas': 'ser mãe é muito bom, mas...'.

Não me considero propriamente uma especialista no assunto - afinal, o Matias ainda nem tem dois meses. Mas não me revejo nas descrições que vou lendo por aí e que falam de rios de lágrimas, cabelos desgrenhados e pipis destruídas para sempre.



Talvez tenha sido uma questão de expectativas. Sinto-me agora tremendamente feliz e realizada, mas já me sentia assim antes. Não tive um filho para preencher uma qualquer espécie de vazio, e por isso não fiquei de forma alguma desapontada com a experiência. Aconteceu até o oposto: estava à espera que fosse tudo uma chatice até o miúdo ter uns três ou quatro anos (muito por culpa das tais coisas desagradáveis que leio e ouço e do facto de me lembrar que quando o meu irmão nasceu era um aborrecido que só dormia e chorava), mas estou a achar tudo isto terrivelmente divertido.

É fácil? Claro que não. Mas está a ser sem sombra de dúvida uma experiência absolutamente espectacular. Mentiria se dissesse que não tem partes menos boas (nomeadamente as noites), mas são definitivamente ínfimas. E, afinal, há algo no mundo que só tenha coisas boas? Até viajar (que sempre considerei a melhor coisa do mundo) tem as suas chatices.

Hoje uma amiga partilhou no Facebook um texto d'A Gaja onde ela fala sobre o facto de não querer ter filhos e a dada altura diz:

'E depois há todos os tabus em torno das coisas que correm mal na gravidez e no pós-parto. As vaginas rasgadas, os esfíncteres esfacelados, a incontinência, as depressões pós-parto. Eu ouço as histórias e dá-me uma imensa tristeza por não se falar mais sobre isso. Entristece-me esta patética ideologia da mamã super feliz, da mamã super mamã, sempre sorridente, ameninada, apoucada.'

E sabem como me senti? Culpada. Culpada por estar super feliz, por me sentir uma super mamã e por estar sempre sorridente (ameninada nunca fui). Como se fosse errado estar tão contente. Como se não fosse normal sentir-me tão bem.

Por isso hoje decidi que, no meio de todo um conjunto de demonstrações sobre a chatice que é ser mãe que ouvimos e lemos por aí, devia dizer-vos que há quem continue a ver a maternidade como uma coisa super fixe. Sem 'mas'. Sem reticências.

Está a ser uma viagem do caraças.