'The only way to keep your health is to eat what you don't want,
drink what you don't like, and do what you'd rather not.'
Mark Twain
Há uns bons anos fiz o percurso do Douro de comboio e parei no Pinhão, onde passei um dia bastante agradável. Na altura o Pinhão era uma aldeia pequena sem grande coisa para fazer mas com muitas particularidades bonitas para ver, e desde então lembro-me com nostalgia desse dia tão tranquilo e sereno. Durante a nossa road trip pelo Douro, o Pinhão foi uma das nossas paragens.
A aldeia em si não mudou muito. Está agora mais desenvolvida e turística, mas continua estranhamente vazia e parada no tempo. Demos um passeio, comemos um pastel de nata de vinho do Porto e parámos numa charcutaria para comprar queijinhos e enchidos.
Estivemos uma hora dentro da charcutaria.
O senhor que nos atendeu, o patrão, deu-nos logo a provar o presunto, o salpicão, o queijo picante e o pão caseiro. Depois falámos da vida na aldeia, do estado do país, dos nossos trabalhos e de muitas outras coisas. E ele, vegetariano convicto há doze anos, falou-nos sobre como achava que as prioridades das pessoas estavam trocadas em relação à comida.
Dizia o senhor que conhecia várias pessoas que preferiam levar um bife mais barato e com menos qualidade, mas que vestiam roupas de marca e calçavam sapatos caros. E comentava que era melhor levarem carne em menor quantidade, mas com mais qualidade, rematando com um 'somos o que comemos'.
É claro que cada um gasta o seu dinheiro como quer e tem as suas prioridades, mas aquilo deixou-me a pensar.
Embora nós estejamos sempre a poupar para a próxima viagem, não temos a preocupação de poupar no que comemos: a carne e o peixe são sempre da melhor qualidade (nham nham bifinhos do lombo do Uruguai), não nos inibimos de gastar dinheiro nos 157878545878 tipos diferentes de frutos secos que comemos e compramos produtos saudáveis apesar do preço excessivo (xarope de seiva de ácer, leites vegetais, farinhas sem glúten, entre outros). No entanto, tendemos a poupar em algumas coisas, e é raro comprarmos camarões, polvo ou pato, por exemplo.
E não deixa de ser curioso que tenhamos tanta facilidade em gastar dinheiro com alguns alimentos que sabemos serem bons (mais uma vez, nham nham bifinhos do lombo do Uruguai) mas não com outros.
Voltámos para casa com a mala cheia de enchidos e a alma cheia de uma certeza: efectivamente, nós somos o que comemos. E por isso talvez esteja na altura de rever as nossas prioridades em relação à nossa alimentação e começar a comprar mais polvo, algo que gostamos imenso de cozinhar e comer.
Assim surgiu este arroz de polvo. Delicioso, carregado de polvo, saudável, típico e reconfortante. Um prato cheio para uma lista de prioridades mudada.
Arroz de polvo
Ingredientes (para quatro pessoas):
* 1300g de polvo congelado;
* 100ml de vinho tinto;
* Um fio de azeite;
* 100g de chouriço cortado em cubinhos;
* Uma cebola picada;
* Dois dentes de alho picados;
* Um fio de azeite;
* Arroz basmati q.b.;
* Duas colheres de chá de mistura de especiarias italianas;
* Duas colheres de chá de salsa picada;
* Duas colheres de chá de paprika;
* Uma pitada de sal;
* Uma colher de chá de piri-piri.
Confecção:
* Cozer o polvo no vinho tinto e em água suficiente para cobrir o polvo, à qual se junta um fio de azeite;
* Cortar o polvo em pedaços e reservar a água da cozedura;
* Refogar o chouriço picado, a cebola picada e o alho picado num fio de azeite e juntar o arroz basmati;
* Deixar fritar e temperar com a mistura de especiarias italianas, a salsa, a paprika, o sal e o piri-piri;
* Juntar os bocados de polvo e misturar;
* Acrescentar a água da cozedura aos poucos, deixando cozer até ficar pronto e o polvo ficar macio.
Até amanhã! :D