4 de fevereiro de 2014

Creme de espinafres e (mais) uma epifania!

'Give me grace to accept with serenity the things that cannot be changed,
Courage to change the things which should be changed,
And the wisdom to distinguish the one from the other.'

Reinhold Niebuhr


A minha primeira semana de trabalho foi extremamente complicada: depois de ter passado os últimos seis meses em casa a estudar, ter repentinamente de equilibrar estar dez horas por dia fora com cozinhar, tratar da casa, estar com os amigos, ter tempo para namorar e manter a minha sanidade mental não se revelou nada fácil. Juntem a isto alguns problemas pessoais e familiares, e aqui têm a mais eficaz receita para a desgraça.


Para vos ser muito sincera eu estava completamente esgotada. Ainda me sentia imensamente cansada (física e psicologicamente) de todas as emoções fortes dos meses anteriores, estava irremediavelmente insegura em relação às minhas capacidades técnicas e fiquei absolutamente aterrorizada com a minha falta de motivação para fazer o que tanto desejei nos últimos seis anos: ser, finalmente, médica.

Perguntava-me todos os dias se teria cometido um grande erro, se estaria no lugar certo e se seria boa o suficiente. Sentia que não era ali que pertencia, que estava perdida e que não sabia o que fazer.


Num desses dias extremamente deprimentes o Pedro ficou de banco e eu fiquei sozinha em casa toda a noite. Vai daí vesti o pijama, vi três episódios de 'Masters of Sex' seguidos, tratei da minha quintinha virtual no Hay Day e depois telefonei à minha mãe a pseudo-choramingar e a pedir disfarçadamente por colinho.

A minha mãe disse-me que tudo ia ficar bem. Disse que era só uma fase, que a adaptação a um sítio novo era sempre complicada e que começar a trabalhar era difícil. Disse que a insegurança e o medo eram normais, e que teria de lidar com eles durante todo o meu percurso profissional.

E no fim do telefonema disse 'Joana, tu tens de parar de ter pena de ti própria'.


Acho que se nota que eu sou uma pessoa extremamente positiva. Mas também tenho uma enorme tendência para ter pena de mim própria, o que não deixa de ser um grande desperdício de tempo - até porque choramingar efectivamente não resolve os problemas de ninguém.

Por isso levantei a cabeça. Aceitei que vou andar esgotada durante uns tempos e que talvez não consiga fazer tudo aquilo que gostaria. Aceitei que vou cozinhar menos, que vou adiar planos e que vou falhar metas pessoais. Aceitei que ninguém vem a correr atrás de mim, e que por isso não preciso de me sobrecarregar tanto. Aceitei que, muitas vezes, ter o controlo sobre as situações envolve saber quando parar de tentar controlar tudo.

Aceitei que vou ter dias maus e que preciso de lidar com eles da melhor forma que sei: a respirar fundo, a cantar no carro, a aninhar-me no colo do Pedro, a sentir-me feliz com as pequenas coisas e a cozinhar pratos quentinhos e reconfortantes como este creme de espinafres.

Afinal, a vida é demasiado curta para a desperdiçarmos com preocupações e inseguranças.


Creme de espinafres

Ingredientes (para seis a oito doses):

* Um alho francês cortado em rodelas;
* 100g de abóbora;
* Duas cenouras cortadas em rodelas;
* 400g de couve-flor congelada;
* 200g de espinafres;
* Sal a gosto;
* Um fio de azeite (opcional).

Confecção:

* Juntar os ingredientes e levar a cozer numa panela com água temperada com sal;

* Triturar com a varinha mágica e servir.


Até amanhã! :D