29 de julho de 2019

Alentejo 2019 - O resumo!

Quando eu era criança ficava sempre doente nas férias, de tal forma que os meus pais habituaram-se a viajar com uma parafernália de medicamentos que fazia inveja a qualquer farmácia. Tive direito a tudo, desde febrões inexplicáveis a diarreias intermináveis, com muitas visitas ao serviço de urgência à mistura. A última vez que fiquei doente nas férias tinha já dezoito anos e tive uma inflamação muscular tão grande num pé que deixei de conseguir andar. Estávamos no México.

Até ver, parece que o karma decidiu lixar-me.

Tudo começou no regresso da viagem de Santorini, quando o senhor Matias fez febre no aeroporto. Não foi de todo grave: estávamos a regressar das férias, por isso fiquei um dia em casa com ele e o miúdo ficou logo bom. Um mês depois íamos para Helsínquia e Tallinn e o Matias ficou internado com uma sobreinfecção bacteriana em cima de uma varicela (e ler isto ainda me faz ficar com lágrimas nos olhos).

Nos últimos dias fomos para o Alentejo. Há meses que eu sonhava com esta viagem, que ia ser uma espécie de babymoon a três (não consegui convencer o Pedro a ir para Sesimbra, snif). Como o Pedro mudou de emprego há um mês já não tem direito a mais férias este ano, mas decidimos aproveitar o feriado de Loures e tirar umas mini-férias em família.

Era tudo perfeito. Tínhamos um hotel estrondoso a 1.30h de Lisboa (bom se precisássemos do hospital por alguma razão e não implicava viagens longas de carro para a grávida e a criança). Tínhamos um programa fixe: voltar ao Badoca Safari Park e à Lagoa de Santo André, onde já fomos tão, tão felizes. Até o tempo parecia estar a cooperar connosco - não estava demasiado calor, mas estava agradável o suficiente para fazermos praia e piscina. Além disso, é o Alentejo: boa comida, pessoas simpáticas e vaquinhas, não há muito mais para querer da vida :)

Logo no primeiro dia o Matias ficou esquisito. Fez imensas birras e estava super desafiador, e depois de uma fase inicial em que andou de um lado para o outro a delirar e a dizer 'este sítio é perfeito', começou num rant a dizer que queria 'ir para casa em Lisboa'. Foi um dia mesmo difícil, e quando ele finalmente adormeceu dei por mim a dar razão ao Pedro e a pensar que realmente viajar com os miúdos não é nada divertido.

No segundo dia o Matias acordou com febre. Não quis comer grande coisa ao pequeno-almoço e estava meio chocho. Tínhamos planeado ir ao Badoca, e achámos que ele podia ficar mais animado ao longo do dia. Estávamos certos... Até chegar a hora do almoço, altura em que o Matias basicamente faleceu para a vida. Não queria comer, não queria brincar, não queria ver nada e começou a ficar cheio de febre, por isso voltámos para o hotel, demos-lhe o paracetamol, dormimos todos uma bela sesta e esperámos pelo aparecimento de mais sintomas que esclarecessem a etiologia do quadro.

E se eles apareceram.

O Matias tem sido um miúdo extremamente saudável. Nunca teve uma bronquiolite nem uma otite, e no geral é mais dado às gastroenterites e às viroses que envolvam pintas pelo corpo. Mas já teve uma ou duas laringites estridulosas no passado, e por isso quando vimos o primeiro episódio de estridor (já durante a noite, umas horas depois) começámos a fazer as malas e viemos para Lisboa. Sabíamos que pela frente tínhamos pelo menos três noites sem dormir, a pôr a cabeça do miúdo fora da janela para ele respirar o ar frio da noite, a tentar que ele comesse o que quer que seja e a dar-lhe muitos, muitos miminhos.

Ontem eu estava inconsolável, dividida entre a preocupação com o meu filhote e o ressentimento por ter tido que terminar as férias mais cedo. Mas depois chegou a noite.

Passei a noite deitada no chão do quarto do Matias. Fomos à rua umas oito vezes para ele respirar o ar frio. Ele não quer comer, ele não consegue dormir, ele mal consegue respirar. E o ressentimento foi-se, todo, até à última gota. E só quero que ele fique melhor.