19 de abril de 2017

Fazer o melhor pelos nossos filhos (este não é um texto sobre vacinas).

Sobre as vacinas, já muito se disse. Como profissional de saúde penso que será óbvio qual é a minha postura em relação ao assunto, e só lamento que sejam necessárias situações dramáticas como esta para que se discuta a importância de algo tão simples como a vacinação.

Não sendo este um texto sobre vacinas, não deixa de estar relacionado com o tema. Porque acredito sinceramente que, salvo algumas excepções (eu gostaria de dizer que são raras, mas tendo em conta a minha área de especialidade a verdade é que assisto a muitas merdas horríveis chatices), todos os pais fazem aquilo que acham melhor para os seus filhos.

E eu até empatizo com isto, a sério que sim. Se a vacinação é uma opção (que é), então abrimos a porta para que os pais possam optar. E quando o fazem, optam por aquilo que acham melhor para o seu filho. Se os pais acham que as vacinas são más, optarão de acordo com isso, independentemente de poderem estar a colocar em risco as outras crianças - afinal, como pais a nossa prioridade será sempre o nosso filho. E por isso, na minha opinião, há duas formas de combater esta questão: tornar a vacinação obrigatória e informar as pessoas. Informá-las mesmo, com tudo a que têm direito.



Sempre que insiro um fármaco a algum miúdo meu os pais gramam com toda uma banhoca de informação. O que é aquilo, o que faz, onde actua (com direito a conversas xpto de neurotransmissores e áreas do cérebro), quais são os efeitos, quantas horas dura o efeito, quais são os efeitos secundários esperados, quais são os efeitos secundários raros, quanto tempo é habitual fazer a dita terapêutica, etc etc etc. No fim, munidos de toda a informação que consigo dar (e com folhetos pelo meio), os pais optam por aquilo que lhes parece melhor.

E por isso não me parece assim tão simples resumir isto a 'pais tolinhos e hippies com a mania da conspiração'. Porque nós, como médicos, também estamos a falhar. Não estamos a informar as pessoas, não estamos a esclarecer-lhes as dúvidas, não estamos a falar abertamente sobre vantagens e desvantagens, riscos e benefícios, efeitos esperados e efeitos secundários. Estamos a encolher os ombros, a revirar os olhos e a desistir, à espera que aconteça uma desgraça deste estilo para voltar a falar do assunto.

Enfim. Este não é um texto sobre vacinas. É um texto sobre escolas.

Uma das coisas que sempre me fez confusão em muitas pessoas 'adultas' que conhecia eram as viagens que elas faziam para levar os miúdos 'ao colégio'. No meu círculo de pessoas conhecidas tenho malta que viaja quarenta minutos todos os dias para deixar os filhos no colégio, largando várias centenas de euros por mês, quando poderiam simplesmente deixar os filhos na escola mais perto de casa de forma mais-ou-menos gratuita.

Entretanto tornei-me mãe. O Matias anda numa creche a cinco minutos a pé de nossa casa e a dois de carro. Fica a caminho quando vou para o trabalho de manhã e a caminho quando o Pedro sai do trabalho à tarde. Melhor do que isto, só mesmo se não largasse lá várias centenas de euros por mês (não se pode ter tudo na vida).

Mas agora surgiram as dúvidas. A creche acaba aos três anos, o Matias não entra certamente no jardim de infância público com três anos, e já que vamos ter que alombar com um jardim de infância privado (pelo menos até ele entrar no público) eu gostava de o integrar num que seguisse o Movimento Escola Moderna.

O problema é que todos os jardins de infância que seguem este movimento ficam longe.

E entra aqui a questão: então, o que é o melhor para o meu filho? Andar numa escola tradicional perto ou andar numa escola 'mais fixe' mas mais longe, que implique viagens de carro potencialmente longas (ontem demorei literalmente uma hora e meia a chegar da Estefânia a Telheiras!) e, por conseguinte, menos horas em casa a passar tempo de qualidade com os papás?

Isto pode parecer uma questão tontinha para quem tem um filho com onze meses, mas a verdade é que algumas destas escolas já nem sequer aceitam inscrições (ME-DO), por isso parece-me que temos de andar das perninhas e decidir. E repetir a saga da escolha da creche, desta vez em versão jardim de infância.

Decisões, decisões.