5 de agosto de 2015

Cheesecake de frutos vermelhos e limão (paleo, sem glúten, sem açúcar, vegan) para um preconceito!

Now there's never gonna' be an intermission,
But there'll always be a closing night.
Never entertain those visions,
Lest you may have packed your baggages.
First impressions are cheap ambitions,
Sometimes are long goodbyes.
Truth so often to living dormant,
Good luck walks and bullshit flies.

Scissor Sisters




Há sensivelmente dois meses partiram-me um vidro e assaltaram-me o carro. Vi-me por isso na impossibilidade de viajar de carro para o Porto nesse fim-de-semana, e decidi ir de comboio.

Ao meu lado sentou-se um mocinho que meteu conversa comigo. Fomos o tempo todo a conversar: descobri que ele se chamava Burga, que era um estudante turco e que estava a conhecer Portugal de comboio. Falámos sobre imensas coisas: o ramadão, a comida halal, a quaresma, o natal, a crise económica, os pratinhos típicos do Porto, os melhores locais para visitar na Turquia, a viagem dele à Noruega, as vantagens do couchsurfing, a situação dos refugiados palestinianos, as diferentes políticas dos nossos países em relação à saúde e à educação e o desemprego e a emigração jovem.


No fim, o Burga disse algo que me deixou a pensar:

'Se não te tivessem assaltado o carro, nunca te teria conhecido. Por isso essa é a prova que podem surgir coisas boas mesmo das situações más.'


O Burga não tinha onde ficar (ia dormir na praia), por isso convidei-o para ficar em casa dos meus pais. Ele recusou: disse que não queria dar trabalho e que preferia estar sozinho, para poder concentrar-se em meditar e escrever as suas reflexões. O meu pai fez questão de lhe dar boleia para o centro da cidade, onde ele garantiu que iria arranjar um hostel para passar a noite. No fim partilhámos contactos, tirámos uma foto e trocámos mensagens, onde eu ajudei o Burga a orientar-se pela cidade até ao seu destino final: Salamanca.


E sabem o que ouvi quando contei esta história a alguns colegas? Que era maluca. Que era terrivelmente irresponsável convidar para minha casa alguém que acabei de conhecer, principalmente alguém que era muçulmano. E se ele explodisse o meu prédio? E se ele fosse um associado terrorista? Não é estranho andar assim um jovem de comboio sozinho? (Haaaammm não?). Não são precisamente estes tipos com um aspecto simpático e inocente que são recrutados actualmente para as redes islâmicas? Ou será que eu acho que os terroristas têm todos turbantes e barbas longas?


Numa fase inicial confesso que fiquei estupefacta, mas eventualmente percebi: temos no presente um preconceito tão enraizado na nossa sociedade em relação à religião islâmica que ficamos cegos em relação à realidade - tal como em todo o lado, existirão sempre pessoas boas e pessoas más, pessoas que são genuinamente simpáticas e pessoas malvadas.

Eu não me revejo neste preconceito. Mas tenho outros.


Sempre que encontro sobremesas vegan há uma parte de mim que automaticamente assume que o resultado será inferior ao das sobremesas 'normais'. Por vezes, também penso isto de algumas adaptações paleo. Não consigo evitar ter este preconceito, e confesso que já nem sequer tento com muito afinco: afinal, esta é a melhor forma de ver as minhas expectativas superadas :)


Vai daí, a curiosidade venceu o preconceito em relação a este cheesecake paleo e vegan. E depois de ter comido um montão de massa à colherada ainda antes de a colocar na forma, percebi que tinha nas mãos uma daquelas receitas que ficam connosco para o resto da vida.

Nesse dia, partilhei este cheesecake com os meus amigos e todos vencemos o nosso preconceito em relação às sobremesas vegan.

Se fosse assim tão simples eliminar os outros preconceitos do coração de todos nós, o mundo seria um lugar bem mais harmonioso não acham? :)



Cheesecake de frutos vermelhos e limão (paleo, sem glúten, sem açúcar, vegan) (receita adaptada do blog 'Coco e Baunilha')

Ingredientes:

Base:
* 180g de tâmaras sem caroço e aquecidas;
* 140g de noz pecan;
* 40g de noz;
* 60g de granola (usei granola paleo, mas podem substituir por mais nozes);
* Uma pitada de sal;
* Um fio de óleo de coco;

Recheio:
* 300g de cajus crus;
* Sumo de três limões;
* Raspa de dois limões;
* Uma colher de chá de essência de baunilha caseira (receita aqui);
* 120ml de óleo de coco;
* 120ml de creme de coco (comprei no Continente, na parte dos produtos naturais, mas a parte sólida da lata do leite de coco também resulta);
* 180ml de xarope de seiva de ácer;
* Uma pitada de sal;
* 350g de frutos vermelhos congelados;

Confecção:

* Na véspera colocar os cajus numa taça, cobrir com água e reservar pelo menos durante doze horas;


* Para a base triturar as tâmaras com as nozes e a granola;

* Juntar a pitada de sal e amassar bem;

* Se necessário para moldar, juntar um fio de óleo de coco;

* Colocar a base numa forma de fundo amovível coberta com papel vegetal e amassar bem (a minha base tinha 24cm);

* Levar ao frigorífico durante cerca de trinta minutos;


* Escorrer os cajus e triturar bem no robot de cozinha até ficar em pasta;

* Juntar o sumo de limão, a raspa de limão, a essência de baunilha, o óleo de coco, o creme de coco, o xarope de seiva de ácer e a pitada de sal e triturar bem com a varinha mágica até ficar uma mistura homogénea;

* Entretanto levar os frutos vermelhos ao lume com um bocadinho de xarope de seiva de ácer e deixar ferver até engrossar;

* Deixar arrefecer e juntar 100g desta mistura de frutos vermelhos ao creme de caju, mexendo bem para ficar uma mistura homogénea;

* Cobrir a base com o recheio de caju e frutos vermelhos e levar ao congelador até solidificar;

* Cobrir com o xarope de frutos vermelhos restante e esperar pelo menos trinta minutos até servir. 





Até amanhã! :D