12 de agosto de 2019

Pregnancy Diary #36

Quando comecei a ter aulas de canto tive ali umas divergências artísticas com a minha professora: eu só queria cantar cenas revoltadas como a Pushing Me Away dos Linkin Park, a You Oughta Know da Alanis Morissette ou a Big In Japan dos Guano Apes (e mesmo quando passei para o reportório lírico entrei logo a pés juntos com a Lacrimosa do Requiem do Mozart) e a minha professora de canto dizia que eu tinha um estilo muito querido, e por isso adorava dar-me o que ela chamava de temas 'delicodoces', como a Somewhere Over The Rainbow da Judy Garland, a La Vie En Rose da Edith Piaf... E a Gabriela da Gal Costa.

Era a música que estava a cantar durante as aulas quando engravidei do Matias, e ficou desde logo decidido que se fosse menina ia chamar-se Gabriela. Não sei, há qualquer coisa na música, uma leveza, uma espontaneidade com a qual eu me identifico. Não consigo explicar, mas o Pedro também sente isto, e soubemos ali que aquele era O nome.

Quando soubemos que desta vez a bebé era menina foi automático: era a Gabriela. Mas depois surgiram as dúvidas.



Eu só gosto daquilo a que o Pedro chama carinhosamente 'nomes à foda-se', que eu presumo que queira dizer nomes hipster-betos. Para mim nome do top vinte de popularidade está automaticamente excluído, bem como nomes de miúdos da minha consulta que me marcaram, nomes que levantam dúvidas na forma como se escrevem ou nomes que não sejam betos. Eu sei que isto soa muito snob e admito isso: sou uma snob dos nomes. Mas gosto do facto de Matias ser um nome 'beto'.

Ora, Gabriela não é um nome beto. As nossas outras opções em conjunto eram bem mais betas (Luísa, Isabel e Rosa, por aí fora). Quando comecei a dizer às pessoas o nome via mais caras franzidas do que admiração. Mas mais uma vez, nós sentíamos que Gabriela era O nome. Nós sabíamos que Gabriela era O nome.

O resto foram dúvidas existenciais. Decidir um segundo nome e perceber que ficavam todos horríveis. Fazer as pazes com o facto de termos um filho com segundo nome e uma filha sem segundo nome. Convencer o Matias que a mana não se ia chamar Maria Teresa. Aceitar que às vezes o nosso coração diz coisas que o nosso cérebro não compreende, e que só nos resta confiar na nossa intuição.

E esperar pela nossa Gabi.


Quando eu vim para esse mundo, eu não atinava em nada.
Hoje eu sou Gabriela, Gabriela ê meus camarada.
Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim,
Vou ser sempre assim: Gabriela, sempre Gabriela.

Quem me batizou, quem me nomeou,
Pouco me importou, é assim que eu sou: Gabriela, sempre Gabriela.

Eu sou sempre igual, não desejo o mal,
Amo o natural, etc e tal: Gabriela, sempre Gabriela.