3 de julho de 2018

As reflexões que antigamente antecediam receitas (parte 3).

Já há muito tempo que queria escrever esta publicação. Fui adiando porque não estava suficientemente inspirada, não tinha tempo, estava cansada, achava que talvez não fosse apropriado ou temia que não surgisse propriamente grande conversa à volta do tema nos comentários, mas hoje enchi-me de coragem e aqui vai.

Não é segredo que a amamentação não correu bem por estes lados, e já várias vezes disse em diversos contextos que não quero amamentar os meus próximos filhos. Vá, não é bem não querer - se os miúdos pegarem bem na mama e eu tiver rios de leite é óbvio que vou amamentar, mas ao primeiro sinal de que algo não está a correr como seria desejado provavelmente vou ser a primeira a desistir. E assumo isto sem quaisquer problemas. Sei as implicações disto, sei os riscos, sei as razões psicanalíticas pelas quais penso assim, sei que o problema são as minhas próprias fragilidades e por aí fora. Tenho direito a elas, é a vida. Entretanto tenho uma amiga que trabalha numa clínica de apoio à amamentação perto de minha casa (a Clínica Amamentos) que já me garantiu que para a próxima vou ter mais apoio e as coisas vão correr melhor e tal, por isso vamos ver.

A questão é que sempre que falo disso cá em casa o Pedro diz que gostava que eu amamentasse, porque efectivamente é melhor para o bebé.

O que me deixa a questionar-me o que aconteceria se eu não quisesse mesmo amamentar.



Sempre que falo sobre isto com os meus amigos os argumentos são sempre os mesmos: que o corpo é meu, que eu é que decido, que as mamas são minhas, que não são eles que sofrem, etc etc etc. Mas na verdade eu não concordo com isto. O corpo é meu mas o filho é dos dois, e acho que a opinião do Pedro em relação às decisões que influenciam o nosso filho é tão válida como a minha.

Há umas semanas falava sobre isto com uns amigos e eles usaram como argumento a questão da interrupção voluntária da gravidez. Diziam eles que as mulheres tinham todo o direito a terminar uma gravidez que não quisessem porque o corpo era delas, mesmo que o pai quisesse assumir o bebé, porque mãe é mãe e etc e tal. Ou seja, se um pai não quiser um filho e sugerir o aborto é um cabrão e devia assumir as suas responsabilidades, se uma mãe não quiser um filho e sugerir o aborto é o seu direito e o seu corpo.

Eu não tenho rigorosamente nada contra o aborto, atenção. Simplesmente acho que isto não é assim tão linear como as pessoas pensam. E sinceramente aborrece-me um bocado esta visão dos pais (e já falei sobre isto inúmeras vezes aqui no blog) como acessórios ou, pior, como uns idiotas que não podem e não devem ter opiniões em relação a um filho.

Por isso sim, na minha opinião seria legítimo tentar amamentar porque o pai (neste caso o Pedro) quer. Mas pareço estar sozinha nesta minha luta, pelo menos tendo em conta as opiniões da malta que me rodeia :)

Chutem aí as vossas opiniões :) Vou abrir os comentários anónimos para toda a gente poder comentar (e não só a malta que tem perfil)!