22 de julho de 2017

FML.

Há duas semanas o Bernardo telefonou e tivemos uma conversa mais ou menos assim:

Bê: Hola! Onde estás? Ouve-se imenso barulho aí!
Eu: Estou no cabeleireiro.
Bê: Nice. Vais pintar o cabelo outra vez?
Eu: Não, vou fazer uma hidratação profunda.
Bê: Ok. Isso é o quê?
Eu: Também não sei, mas aparentemente segundo a minha mãe é importante fazermos quando pintamos o cabelo.
Bê: Parece fancy.
Eu: Nem por isso, é um bocadinho uma seca.
Bê: Querem combinar alguma coisa logo?
Eu: Não podemos, vamos ao Alive ver os Foo Fighters.
Bê: Tão bom! Que sorte!
Eu: Oh, não tenho vontade nenhuma de ir. Estou super cansada, o concerto começa à meia-noite, ainda nem sabemos se vamos de carro ou de transportes, yada yada yada.


Bê: Bem, vais ver que vai ser fixe! Tu adoras Foo Fighters!
Eu: Sim, mas estou mesmo sem vontade de ir.
Bê: Então e querem combinar alguma coisa amanhã?
Eu: Não podemos, vamos passar o fim-de-semana em Sesimbra.
Bê: Que fixe! Fazem bem!
Eu: Oh, já não vamos ver os golfinhos porque o barco sai às 9.30h e isso implicava levantarmo-nos cedo... E não vamos fazer nada de especial porque estamos cansados... E não estou propriamente a imaginar o Pedro a querer relaxar na praia ou na piscina...
Bê: (silêncio)
Eu: Bê?
Bê: Oh Xi, já te ouviste? Estás no cabeleireiro a tratar de ti, logo vais a um festival, vais ver uma banda que adoras, estás com o teu marido, o Mati está a ficar melhor, vais passar um fim-de-semana romântico a Sesimbra... Estás a queixar-te do quê ao certo?
Eu: Hm. Pois. Não sei, acho que estou mesmo cansada.

Depois desta conversa fiquei a pensar nisto. Quem já me acompanha há uns tempos já percebeu que eu sou uma pessoa extremamente positiva, mas realmente reconheço que ultimamente ando meia peixe morto. Não estou triste nem irritada, simplesmente tenho algumas dificuldades em desfocar-me do cansaço e em focar-me nas coisas positivas.

Na semana passada fizemos um almoço com a Joana, o Bernardo e o David. Eu fiz tiramisù (e avariei a minha máquina da Nespresso pelo caminho), o Pedro cozinhou o esparguete à bolonhesa, a Joana trouxe o queijo mozzarella e os tomates, o Bernardo trouxe macarons e o David trouxe Compal de laranja do Algarve. Também tínhamos nachos, molho de salsa e queijo, por isso fui comprar pão. E aconteceu o seguinte diálogo:

Senhora da padaria: O que vai ser?
Eu: Um caseiro grande.
Senhora: Um caseiro comprido ou redondo?
Eu (mentalmente): Foda-se, estou cansada de decidir coisas! Ser adulta é difícil! Detesto isto! Sei lá, só quero um pão que dê para todos!
Eu (verbalmente): Comprido, se faz favor.

Hoje estava a sonhar que estava a fazer um workshop de pizzas num resort nas Maldivas e o Matias começou a chorar. Eram seis da manhã. Fui ao quarto dele e quando lá cheguei ele já dormia novamente. Thanks Obama. É óbvio que não voltei a sonhar com workshops de pizzas em destinos paradisíacos. O despertador tocou às sete e eu levantei-me contrariada. Trabalhar ao Sábado (ainda por cima 12h!) deprime-me imenso. Vesti-me, aqueci uma panqueca, enchi-a do xarope de seiva de ácer delicioso que comprei no Glood, dei um beijinho ao Mati e saí. Estavam pouquíssimos carros na rua e não apanhei trânsito. Ainda não tivemos miúdos na urgência e aproveitei para rever umas coisas da nossa viagem a Svalbard.

E pensei que realmente este discurso de 'fuck my life' é um bocadinho cansativo. E que já estou cansada de me sentir cansada. E que já estou cansada de dizer que estou cansada.