7 de fevereiro de 2017

E tudo surgiu com uma bola de Berlim.

Há uns bons tempos vi num blog que sigo (e cuja autora também me segue) uma foto de um bebé de nove meses a provar uma bola de Berlim, e confesso que na altura fiquei horrorizada. Não imaginava o que poderia motivar alguém a dar um bolo frito a um bebé, e tendo em conta a quantidade de informação sobre nutrição que há por aí hoje em dia e a prevenção da obesidade infantil em que a nossa sociedade tem apostado, parecia-me absolutamente negligente alguém cometer tal atrocidade.

Foi o que eu pensei na altura, do alto da minha superioridade moral. E é quase engraçado olhar para as convicções que tinha no passado e perceber que a vida me ensinou entretanto que há muito poucas certezas.

Já falei aqui no blog sobre a minha postura em relação à alimentação do Matias. Temos usado um misto de introdução alimentar 'normal' com baby-led weaning, o que faz o Mati comer coisas absolutamente normais (sopas, papas caseiras, frutas) intercaladas com tudo aquilo que lhe parece cativar a atenção. E é assim que o meu filho já comeu morangos, queijo, iogurte grego natural, manteiga de amendoim, pão com manteiga... E, mais recentemente, um bocado de bolacha de amendoim com chocolate.

Sim, aquela receita que já fiz umas trinta mil vezes cá em casa e que adoramos. Com ovos. Com amendoim. Com chocolate. Com açúcar. Com manteiga. Com tudo o que faz mal.

Mal comecei a comer o miúdo ficou logo a olhar para mim, e quando estendeu a mão para eu lhe dar um bocadinho eu dei. Ele levou a bolacha à boca, fez um ar de 'OMG mamã, best thing ever', comeu aquilo tudo e voltou a estender a mão. E eu dei-lhe mais um bocado.

E talvez pareça um contra-senso ele comer os iogurtes naturais com menos açúcar que encontrei no mercado e nunca ter comido uma papa de compra, mas eu não ver qualquer problema em dar-lhe a provar bolachas degradantes. E talvez estejam desse lado com a mesma postura condescendente com que eu olhei para aquele bebé que provava a bola de Berlim.

Mas hoje eu percebo. Hoje percebo que o mundo não é a preto e branco. Que a parentalidade não é a preto e branco. Que não somos perfeitos ou negligentes.

Ser mãe tornou-me numa pessoa menos perfeita. Mas garanto-vos que me tornou numa pessoa indiscutivelmente melhor. Mais empática, mais compreensiva... E mais feliz.

E tudo surgiu com uma bola de Berlim :)