3 de novembro de 2016

Finalmente, a aceitação no processo de luto.

Dizia eu, do alto da minha imensa experiência como grávida de um primeiro filho, que não via como a amamentação podia ser uma opção.

Entretanto o Matias nasceu e a amamentação foi um desastre. O miúdo não pegava na mama. Eu não tinha leite. O miúdo perdeu demasiado peso. Eu vi-me perante a possibilidade do meu filho ficar internado com três dias de vida.

Foi muito, muito difícil. Na urgência, fiquei três horas à espera. Um filho de três dias nos braços, sem qualquer reacção. Desidratado. Hipoglicémico. Prostrado. Não havia especialistas a atender, e nenhum dos internos queria ver um bebé tão pequeno. A enfermeira da triagem perguntou-me várias vezes porque não estava a reclamar, mas eu não conseguia fazer nada. Com o Matias nos braços, só conseguia chorar. Na sala de espera, sem quaisquer notícias nossas durante três horas (eu estava sem bateria no telemóvel), o Pedro pensou que o nosso filho tinha morrido.

Saímos da urgência dezasseis horas depois. Comprámos a fórmula. Comprámos a bomba para eu tirar o pouco leite que tinha.

Nos dias seguintes tentei tirar leite com a bomba. Passava uma hora inteira a tirar 30ml de leite, com um braço partido a atrapalhar pelo caminho. O Matias bebia 90ml de leite em cada biberão. Eu só conseguia tirar 30ml, na loucura 60ml, por dia.

Podia ter feito dezenas de coisas. Podia ter tomado suplementos, podia ter continuado a estimular, podia ter contratado uma CAM, podia ter comido quilos da receita da minha mãe para aumentar o leite (sim, pelos vistos isto é uma thing). Mas simplesmente respirei fundo, abracei a inevitabilidade das coisas... E desisti. E optei. Optei por não amamentar.

Tudo isto foi de tal forma traumático que duvido seriamente (mais uma vez, do alto da minha experiência como mãe de um filho) que alguma vez volte a amamentar. E podia justificar-me de imensas maneiras diferentes, mas esta basta: eu não quero. Não quero passar por aquilo novamente. Não quero viver outra vez aquela insegurança horrível. O sentimento de fracasso. A preocupação. A ansiedade. A angústia.

E já sei que vou ser mais experiente. Que o meu próximo filho vai ser diferente. Que me posso preparar melhor. Que posso contratar uma CAM (a sério, só de ouvir a palavra 'CAM' até me começa a tremer a pálpebra). Que o leite materno é o melhor alimento para o meu filho. Que aumenta a vinculação. Já sei isso. Eu trabalho com isso. Eu digo isso aos pais nas minhas consultas.

Mas eu não quero. Agora não quero, e duvido seriamente que alguma vez volte a querer. Porque nisto da maternidade há que escolher bem as lutas que queremos travar, e esta não é, para mim, uma delas. Porque sempre achei que uma das maiores formas de força é sabermos quando devemos desistir.