17 de outubro de 2016

Uma semana depois do regresso ao trabalho.

Quando saio de casa, o Matias ainda está a dormir. Quando ele acorda, por volta das nove e meia, já eu estou parada no trânsito a caminho do trabalho, a respirar fundo e a subir o volume da Smooth FM * inspira, expira, oooooooommmmmmm *.

Mergulho de cabeça na piscina sem fundo que é o meu serviço. Há doentes para ver, há doentes para rever, há doentes para marcar, há estatística para fazer, há contactos pendentes com escolas, há relatórios para escrever, há processos para actualizar... Em casa, o Matias dorme a sesta da manhã.

Quando o Matias come a sopa, por volta do meio-dia, muito provavelmente eu ainda não parei para engolir as chips de coco ou os amendoins que levei para comer a meio da manhã.

O almoço acontece entre a uma e as duas. O Matias vai dormir a sua primeira sesta da tarde.

O tempo passa a voar. Para mim, que trabalho à velocidade da luz, e para o Mati, que dorme profundamente (e acredito que também para o Pedro, que tenta aproveitar estes momentos para descansar ou adiantar alguma coisa).

Quando o Matias bebe o leitinho, por volta das três, já eu olho para o relógio. Comprei um relógio com o mapa do mundo que tem como ponteiro dos segundos um aviãozinho, mas olhar para ele não me dá vontade de viajar - dá-me sim vontade de ir a voar para os braços dos meus meninos.

(Ok, também me dá um bocadinho vontade de viajar.)

O Matias vai dormir a sua segunda sesta da tarde e é hora de sair do trabalho. Mais Smooth FM, mais inspirações, expirações e meditações. Quando chego, a casa está mergulhada no silêncio.

Falamos do nosso dia. O Pedro conta-me o que fizeram eles, eu partilho algumas das angústias que trago comigo do trabalho. E depois é hora de pastelar até o Mati acordar.

Quando ele acorda, por volta das seis, é hora da papa (mais sobre o assunto em breve, mas efectivamente estamos a fazer papas caseiras e está a correr lindamente). Depois vale tudo: palhaçada, ler livros, cantar músicas, ler livros onde se cantam músicas, cócegas no Matias, baba nos papás (litros de baba!), exercícios no chão, exercícios no tapete, exercícios na cama, puxar os cabelos da mamã e tentar comê-los, rebolar, dar as gargalhadas mais lindas do mundo, quase ficar esmagado com abraços bons.

Às oito começamos a rotina do sono. Há massagens na barriga, há banhoca quentinha acompanhada de mais palhaçadas e de muuuuuito chapinhar (já o inscrevemos na natação, este é de longe o momento preferido do dia para o Mati), há swaddling, há leitinho às escuras e em silêncio enquanto contemplamos juntos a nossa coisinha fofa e nos questionamos como é que fizemos algo tão bom, tão lindo e tão perfeito. Por volta das oito e meia o Matias vai para a caminha e dorme até às nove e meia do dia seguinte - ultimamente faz apenas um intervalo para comer às três, quatro ou cinco, mas dez minutos depois já está na cama novamente a dormir profundamente.

Fazemos o jantar. Arrumamos a cozinha. Preparamos a minha marmita do dia seguinte. Pomos sopa a fazer (na Jullie) quando é preciso. Tratamos da casa no geral.

Às nove e meia já estamos sentados no sofá a ver séries ou filmes, a fazer quizzes do Jetpunk, a telefonar a amigos, a adiantar trabalhos, a planear as próximas viagens, a montar Legos (a minha nova panca!), a pintar livros de colorir (idem!) ou a pastelar. O Matias está a dormir, a casa está orientada e amanhã é outro dia.

Disseram-me que quando começasse a trabalhar ia ter muito pouco tempo. Disseram-me que ia ter pouco tempo para arrumar a casa, para ter os meus hobbies, para respirar fundo, para namorar com o Pedro. Ninguém me disse que na verdade ia ter muito tempo para tudo, menos para estar com o meu filho. Estar com ele entre as seis e as oito e meia não chega. Caramba, há dias em que nem estar com ele todo o dia chega.

E por isso as novas rotinas depois do meu regresso ao trabalho estão a correr lindamente, mas não deixam de ser uma merdoca porcaria na mesma. E custa. Custa dar-lhe um beijinho de boa noite antes da caminha. Custa olhar para ele enquanto dorme antes de sair de casa de manhã. Custa contar as horas para o fim-de-semana.

Já desconfiava que isto ia ser difícil, mas está mesmo a superar as minhas expectativas.

(Numa nota mais positiva, o Pedro anda muito mais satisfeito agora que está em casa a tratar do Matias e é delicioso voltar para casa e vê-los aos dois.) :)