3 de agosto de 2016

O treino do sono.

Eu sou uma long sleeper. Sempre precisei de dormir nove ou dez horas para ficar minimamente funcional, e durante a gravidez dormia doze a catorze horas por dia. Assim sendo, confesso que estava bastante assustada com a ideia de ter um bebé e precisar de acordar frequentemente durante a noite.

Estava certa: sinceramente acho que as partes mais chatas de toda esta experiência da maternidade têm sido as noites. E por isso decidi pôr mãos à obra o mais rápido possível.



O Pedro ficou em casa durante um mês depois do Zé Carlos nascer. Como ele bebe leite adaptado desde o terceiro dia de vida, durante este mês fomos alternando as mamadas. Na altura ele acordava para mamar de duas em duas horas, por isso conseguíamos sempre dormir quatro horas seguidas cada um.

Durante este mês percebemos que ter o Mati no nosso quarto não estava a resultar por vários motivos.

O nosso quarto é a divisão mais quente da casa e frequentemente atinge os 25º durante a noite, o que na altura me fazia ter medo de sobreaquecer o miúdo. Como o cobria pouco, ele não dormia tão bem. Quando o passámos para o quarto dele - que é mais ameno - e comecei a ter mais segurança a cobri-lo ele passou a dormir muito melhor (e actualmente, apesar do calor, a nossa coisinha fofa dorme de pijama, enrolado numa mantinha e coberto com um lençol e um cobertor). É friorento, pronto.

Além disso, havia a questão do barulho. Sempre que nós fazíamos barulho - a conversar, a rir ou até a mudar de posição na cama - o Mati acordava. Por outro lado, sempre que ele fazia o mais pequeno barulho a dormir nós acordávamos também.

Também havia o problema do berço: o Mati mexe-se bastante a dormir (e gosta de dormir de braços abertos), por isso tinha pouco espaço no bercinho.

Foi preciso desligarmos o ruído à nossa volta e ouvirmos muito o nosso coração para tomarmos a decisão de o passar para o quarto dele. A malta desatou logo a sacar das forquilhas e das citações da Constança Cordeiro Ferreira, mas sinceramente não me podia estar a borrifar mais: ninguém gosta mais do nosso filho do que nós, e ninguém sabe melhor do que nós o que é melhor para ele.

Foi assim que passámos o Mati para o quarto dele com um mês e decidimos começar o treino do sono. Às onze ou meia-noite dávamos-lhe o banhinho e fazíamos uma massagem relaxante, o biberão era dado na sala às escuras e em silêncio e depois íamos deitá-lo no quartinho às escuras, quer ele estivesse acordado ou a dormir. Inicialmente ele rabujava um bocadinho se estivesse acordado, mas pegávamos logo nele ao colo para se sentir mais seguro e adormecia um ou dois minutos depois. Eventualmente habituou-se a ficar na caminha. Começou a fazer intervalos cada vez maiores durante a noite - primeiro acordava às quatro, depois às cinco, depois às seis, depois às sete e ultimamente já acordava às oito da manhã. Adormecia rapidamente enquanto bebia o biberão e acordava por volta do meio-dia super bem disposto. E eu dormia das onze da noite até às onze da manhã também, apenas com vinte minutos de intervalo para lhe dar o biberão. Tudo corria lindamente.

Esta semana decidimos mudar um bocadinho o sistema e começar a deitá-lo por volta das nove. Deitá-lo mais cedo dava-nos umas horinhas todos os dias para namorar e também iria fazer com que ele se habituasse a acordar mais cedo, o que seria bom quando fosse a altura de ele ir para a creche (em Janeiro). Se ele continuasse a dormir as nove horinhas seguidas acordava às seis para beber o leitinho e depois dormia até às dez, o que nos pareceu perfeito.

O problema é que o Mati não gostou muito da ideia.

E é assim que desde Sábado que o deitamos às nove e ele acorda às três, às seis e às nove para comer, volta sempre a adormecer e só acorda definitivamente por volta das onze da manhã. E eu deito-me à meia-noite, acordo às três, só consigo voltar a adormecer por volta das quatro, acordo novamente às seis, volto a adormecer às seis e meia, acordo às sete com o despertador do Pedro, volto a adormecer por volta das oito, acordo às nove, adormeço às dez e acordo às onze. Vou dormindo umas sestinhas curtas ao longo do dia, mas estou seriamente a dar tilt.

Obviamente que já pensei em desistir umas 834924562312957492 vezes, mas sei que habituar o Mati a adormecer cedo e acordar cedo era o melhor para todos e por isso vou insistindo. E contando os dias para o fim-de-semana, quando o Pedro lhe dá as mamadas da madrugada.

Eu sei que podia ser muito pior e que me queixo de barriga cheia e blá blá blá. Mas eu preciso de dormir, e não tenho culpa disso. Só me resta mesmo ter paciência, e torcer para que os intervalos de oito ou nove horas (que até já chegaram a ser de dez ou doze!) regressem.

Ser long sleeper é tramado.