3 de junho de 2016

A saga triste da amamentação.

Nunca tive grandes expectativas em relação à amamentação. Era obviamente algo que queria fazer pelos benefícios que iria trazer ao meu bebé, mas confesso que nunca romantizei muito o acto em si.

Pus o Matias a mamar uns quarenta minutos depois de nascer e percebi logo que tinha ali um desafio: ele não pegava bem por causa da forma do meu mamilo. Chamei a enfermeira, ela fez uma prega no meu mamilo (doeu como o caraças) e eventualmente ele lá pegou... Durante uns cinco minutos. Depois adormeceu e assim ficou durante quatro horas seguidas.

Os dois dias seguintes passaram-se neste registo. O Matias dormia imenso. Algumas enfermeiras diziam para o acordar, mas quando o fazia ele ficava tão rabugento que não mamava na mesma. Outras diziam para eu o deixar dormir, mas quando o fazia ele dormia seis ou sete horas seguidas sem mamar. Quando tinha fome, demorava imenso tempo a pegar na mama. Quando eventualmente pegava, mamava apenas durante uns cinco minutos e depois desistia ou adormecia. E eu tentei relativizar a questão. Pensei que era uma questão de adaptação, que ainda estávamos a habituar-nos um ao outro e que estávamos ambos a aprender a funcionar em equipa.



No dia em que viemos para casa o Matias mamou à meia-noite e depois disso passou toda a noite a chorar e a recusar-se a mamar. Passou-nos tudo pela cabeça: que ele estava a estranhar o berço, que estava com cólicas, que o tínhamos estimulado demasiado durante o dia, que estava com dores... Só não nos ocorreu que fosse fome. Afinal, ele recusava a mama.

De manhã fomos ao centro de saúde. De lá, fomos mandados para Santa Maria. O Matias estava muito mais magro, desidratado, hipoglicémico e prostrado, e tinha as análises tão alteradas que se ponderou seriamente interná-lo.

Foi, sem qualquer sombra de dúvida, o pior dia da minha vida.

Ainda no hospital iniciámos a fórmula e sugeriram-me que fosse comprar a bomba e tentasse tirar leite para perceber como estaria a situação. E eis que, uma hora a tirar leite depois, tinha no copo... Quatro gotinhas. True story.

Desde então o Matias continua a ser alimentado com fórmula e tem estado a recuperar bem o peso (demasiado bem até, porque já parece um leitãozinho!). Inicialmente tirava o meu leite com a bomba (na loucura ainda consegui tirar 30ml durante uma hora, embora o miúdo já mamasse 90ml...), eventualmente comecei a pô-lo à mama mas sem grandes resultados. Quatro dias depois, deixei de ter leite por completo.

E eu, que nunca romantizei a amamentação e que nunca me identifiquei com aqueles relatos heróicos de malta que continua a insistir no assunto depois de mastites e mamilos a sangrar, fiquei absolutamente destroçada.

Os comentários à minha volta também não ajudaram, e como se eu não estivesse já a sentir-me suficientemente inútil ainda tive que levar com bitaites do género 'coitadinho do menino, a tua mãe deixou-te a passar fominha não foi?' ou 'porque é que o metes na mama, não vês que não tens leite?'. Enfim. Respirar e repetir o mantra *as pessoas não fazem por mal* *as pessoas não fazem por mal* *as pessoas não fazem por mal* *as pessoas não fazem por mal* *as pessoas não fazem por mal*.

E pronto, aqui estamos. A minha tentativa de amamentar o miúdo com leite materno foi por água abaixo. Sinto-me muito mal com isso. Acho que não estava de todo preparada para as dificuldades que teria de enfrentar para amamentar. O Pedro tenta animar-me com o facto de poder voltar a beber gin tónico, mas confesso que até perdi a vontade (eu, que passei quase um ano a suspirar por gin!).

Decididamente preciso de fazer o luto às minhas mamas. E perdoá-las. E pensar que para a próxima pelo menos vou estar mais preparada. E ultrapassar aquela que é até agora a única parte menos boa de toda esta experiência. E beber gin.