30 de março de 2016

Pregnancy Diary #104

Durante o curso vi dezenas de partos. Na verdade, durante os estágios de ginecologia e obstetrícia eu e a Joana éramos tão eficazes a saltar de uns partos para os outros que nos auto-intitulámos de 'as papa-partos'. Muitos deles ficaram gravados na minha memória.

Hoje trago-vos a história de um deles.

Era o primeiro filho de um casal relativamente jovem (com a minha idade agora, vá). A mãe parecia assustada, o pai estava entusiasmadíssimo agarrado à máquina de filmar. Estava tudo a correr bastante bem.

A dada altura, no meio do período expulsivo, a mãe fez força e fez cocó sem querer. Acontece imensas vezes, ninguém liga nada, a equipa está habituadíssima a lidar com o assunto e a grande maioria das mães nem se apercebe do que aconteceu. No fundo, é uma situação absolutamente banal e normal num parto.

I forget people don't enjoy the details of labor and delivery as much as I do...:



Imediatamente a seguir, e no meio das dores, a mãe colocou as mãos nas nádegas para a ajudar a fazer pressão e ficou com cocó numa delas. Depois, desesperada, passou as mãos pela cabeça e ficou com cocó no cabelo. Por fim, estendeu a mão para o companheiro.

E ele ficou ali com um ar horrorizado e enojado e recusou-se a dar-lhe a mão.

Eventualmente aquilo tornou-se tão estranho e triste que uma das enfermeiras disse algo como 'largue o raio da máquina e dê a mão à sua mulher!'. Mas nada aconteceu.

O resto do parto correu lindamente. O bebé saiu bem e eu e a Joana chorámos as duas - o habitual, portanto.

Nurse Humor: The amount of human feces I deal with at work IS TOO DAMN HIGH.:

Agora que estou grávida recebo imensos mails com dúvidas sobre a influência da gravidez e do parto na sexualidade. Eventualmente vou falar sobre o tema em si, mas por agora considerem isto uma espécie de introdução: a melhor dica que posso dar (mas isto sou eu, que não percebo assim tanto do assunto) é envolverem desde sempre o vosso companheiro em tudo.

Informem-se muito, criem a abertura para falar, admitam dúvidas, assumam dificuldades, aumentem a vossa intimidade, riam a dois dos receios, ultrapassem as ideias pré-concebidas, aprendam mais, coloquem em prática novas dicas, testem o que funciona melhor para vocês. Compreendam-se melhor.

Porque aqui, neste momento, ambos os elementos do casal estão a ter um filho - apesar de só um estar a guardá-lo dentro de si. E o realmente importa no fim não é ter alguém ao vosso lado nos momentos felizes, nas consultas e nas ecografias. É ter alguém que vos faça sentir seguras, confiantes, serenas e capazes. É ter alguém que vos dê a mão, mesmo que ela esteja cheia de cocó.

Porque é só cocó na mão malta.